Rigor no reboque de veículos virou um grande negócio  – tem até um facilitador no pagamento da taxa -, mas a Prefeitura usa sucatas para recolher lixo e entulhos, várias com documentos vencidos

De acordo com as secretarias de Ordem Pública e de Mobilidade Urbana, o nome é “choque de ordem” e a meta é “acabar com as bandalhas nas ruas do município e melhorar o trânsito de veículos”.  Porém, o que se vê nas vias públicas de Nova Iguaçu é uma grande confusão, com veículos particulares sendo rebocados a qualquer pretexto, enquanto ônibus, vans e kombis do transporte alternativo param em qualquer lugar, fazem filas duplas diante dos mesmos agentes que não pensam duas vezes antes de multar a mãe que parou por alguns minutinhos para deixar o filho na porta do colégio, além de caminhões caçambas caindo aos pedaços e com documentação vencida, fazendo o transporte de lixo e entulho. Na verdade, o que o governo chama de ordem, virou um grande negócio para a empresa DBS Reboques e Locações que, em uma conta do Bradesco recebe os valores cobrados pelo reboque dos carros e a estadia no nada seguro depósito localizado numa das margens da Rodovia Presidente Dutra, em Nova Iguaçu.

O fomento da indústria das multas e do reboque de veículos pela administração municipal resultou, nos últimos dias, em várias denúncias de supostos abuso nas operações do tal choque de ordem encaminhadas ao núcleo local da Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público, inclusive apontando falta de segurança no depósito de carros apreendidos e o comércio conveniente que se instalou do lado de fora do terreno. Para retirar o veículo do depósito o proprietário precisa sanar a irregularidade que o agente der como existente, fazer cópias de documentos e tirar um nada consta que pode ser conseguido em um guichê próximo à entrada. Além disso, segundo denúncias de motoristas que tiveram veículos apreendidos, há uma facilitadora de pagamentos, que usa a própria conta e a internet para pagar os boletos, cujos valores caem direto na conta da DBS Reboques. “Como lá não aceitam pagamento em espécie a facilitadora, mediante uma taxa de R$ 30, pega o nosso dinheiro e faz a quitação do boleto para podermos retirar o veículo”, conta um cidadão que teve seu carro rebocado às 9h do dia 29 de julho e o retirou no 1º, às 13h, pagando R$ 510.

Tão rigorosa com os particulares, as secretarias de Ordem Pública e de Mobilidade Urbana não olham para o próprio umbigo. Entre os caminhões reboques por elas usados uma (o de número de ordem 06) está com a placa dianteira adulterada, não sendo possível conferir a numeração exata e uma caminhonete não tem placa traseira e está bem danificada. Mas não é só isto: a Prefeitura de Nova Iguaçu paga caro pela locação de caminhões para o serviço de coleta de lixo e entulhos. Alguns deles não tem a mínima condição de circular, mas trafegam livremente pelas ruas da cidade.

Na verdade, o que a Prefeitura chama de caminhões são verdadeiros amontoados de ferros velhos, mas isso nada significa para o pessoal da chamada ordem pública. Um dos exemplos é o caminhão caçamba, modelo Mercedes Benz/L-1519, placa de Duque de Caxias (KNG-1365), que está em precário estado de conservação e, segundo consta no Detran, foi licenciado pela última vez em 2007. Pela lei este caminhão já deveria ter sido recolhido a um depósito há muito tempo, mas em Nova Iguaçu, a legislação de trânsito não vale para os veículos à serviço da Prefeitura, principalmente os que estão à disposição da Companhia de Desenvolvimento de Nova Iguaçu (Codeni) e da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb). Se implacáveis  com as mães que param por alguns minutos em frente aos colégios para deixarem seus filhos, os agentes também não vêem as sucatas ambulantes como as de placa de MPG-2859 (Mangaratiba) e GXA-5179 (Macaé),  ambos com documento vencidos desde 2013 .