● Dr. Henrique Paes
Uma pessoa com fome é o suficiente para nos comover e trazer tristeza. Imaginem, então, 33 milhões de brasileiros passando fome! Essa é a realidade que vivemos e que está muito bem apresentada no relatório do “2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”. Os dados nos levam a refletir sobre quais motivos uma nação como o Brasil amarga uma desigualdade tão grande a ponto de a insegurança alimentar afetar a vida de mais 33 milhões de pessoas, o que representa 15,5% da população brasileira. E para piorar, comparado ao ano de 2020, a fome aumentou. Era cerca de 9,1% da população da época que vivia nessas condições.
Quem passa pelas ruas das grandes cidades consegue ver a quantidade de pessoas dormindo nelas e imagina que esse índice só afeta os moradores de rua. Não. Ele afeta famílias nos mais diferentes cantos do Brasil. A fome está alcançando também quem têm moradias, mas que não conta com meios de conseguir recursos para a alimentação. Nem mesmo os programas sociais ou programas emergenciais estão conseguindo reverter este quadro. Ameniza, mas não resolve o problema. Por isso é que manter esses programas de distribuição de renda é fundamental para socorrer essas pessoas, essas famílias.
Uma das coisas que a Câmara dos Deputados, juntamente ao Senado Federal, precisa criar é uma espécie de “Frente Parlamentar Extraordinária de Combate à Fome”. E deveria fazer isso logo nos primeiros meses da próxima legislatura, já que este ano será difícil qualquer movimentação nesse sentido em razão das eleições. Parece até estranho ter que escrever isso, afinal essa é a função de todos parlamentares e políticos brasileiros. Mas essa “Frente Parlamentar Extraordinária de Combate à Fome” teria uma missão urgente de buscar mecanismos de combater este mal e de propor políticas públicas que de fato façam prevalecer ao brasileiro o direito de acesso à comida.
Outro aspecto que acho interessante e que poderia mobilizar as empresas do país na construção de uma grande aliança nacional. É possível que o poder público e o privado possam dar as mãos para combater essa o quadro caótico que está a questão da segurança alimentar do povo brasileiro.
Como médico sei o que a fome ou a falta de nutrientes necessários causam na saúde das pessoas. Como empresário sei o quanto contribuo para gerar empregos e renda, mas sei também o quanto o governo com altos impostos impede a geração de mais postos de trabalho. Portanto, tenho por dever de, não só por ser médico e empresário, mas também como cidadão neste país, de lutar para que a fome não seja mais uma condição que afeta tantas vidas. Com vontade política e compromisso é possível mudar esses índices.
É difícil falar de políticas públicas, de oportunidades, de direitos, de deveres e até falar de DEUS com quem passa fome.
*Henrique Paes é médico e empresário.