● Elizeu Pires
Quem esteve no lançamento da pré-candidatura do nome do PT para a Prefeitura de Nova Iguaçu, evento realizado no último dia 22, deparou com muito espaço vazio. A pequena quadra do Iguaçu Basquete Clube (IBC), tornou-se grande. Lá compareceram apenas cerca de duas mil pessoas, muitas de fora do município. Se todos fossem eleitores iguaçuanos e optassem por um único nome, o resultado não seria suficiente para eleger sequer um vereador.
Foi um constrangimento para a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleice Hoffmann, e um desconforto ainda maior para o deputado federal Lindbergh Farias, que se mostra como se tivesse cacife suficiente para lotar um estádio de futebol, tipo Maracanã, por exemplo. “Quem esse rapaz pensa que é? Foi um desastre como prefeito. Agora acha que vai chegar aqui e impor um nome”, protestava do lado de fora junto a outros três que lhe ouviam, um petista histórico revoltado.
O evento vazio marcou a apresentação do empresário Antônio Araújo, o Tuninho da Padaria, como o nome do PT para a Prefeitura, mas, na avaliação de observadores mais atentos, serviu mesmo, pelo discurso, para mostrar que Lindbergh estaria apostando na memória curta do povo. “Não temos nada contra Tuninho. É legítimo que ele queira disputar a Prefeitura. O que criticamos é o empenho de um ex-prefeito que atolou o município em dívidas, deixou enorme quantidade de obras inacabadas e as finanças da previdência municipal a zero”, emenda o mesmo petista histórico, que agora anda longe da legenda.
Cinco anos e três meses de mandato – Lindbergh assumiu a Prefeitura em janeiro de 2005 e deixou o governo em março de 2010 para concorrer ao mandato de senador. Nova Iguaçu nunca teve tantos recursos federais como na gestão de Farias, mesmo assim foram feitos empréstimos bancários e recursos do Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Nova Iguaçu (Previni) foram usados pela Prefeitura como se fossem do caixa da administração municipal.
Com a saída de Linsbergh, a vice-prefeita Sheila Gama assumiu o governo, recebendo uma herança maldita, que depois foi repassada, em janeiro de 2013, a Nelson Bornier. O que se encontrou, além das obras inacabadas, foram cerca de R$ 500 milhões em dívidas, além de um rombo de R$ 400 milhões na previdência dos servidores, e muitos escândalos.
Um período nefasto – Um dos escândalos da passagem de Farias pelo município que não sai da memória, foi revelado pelo elizeupires.com na matéria O palácio das almas, veiculada em 13 de novembro de 2007. Nela fora denunciada a existência de funcionários fantasmas na administração municipal, com nomeados que estariam recebendo salários sem trabalhar.
Dois anos depois o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) não só confirmou a denúncia, como apontou outras irregularidades, o que foi o assunto da matéria Uma prefeitura “mal-assombrada”, publicada em 23 de março de 2009, dando conta de que uma auditoria do órgão fiscalizador constatou que de 1002 nomeados na Secretaria de Governo apenas 35 assinavam ponto regularmente e 13 cumpriam expediente externo.
Operação “abafa” – O governo Lindbergh também foi marcado pelo rombo de mais de R$ 400 milhões no Previni. Em março de 2013 o então procurador geral da República, Roberto Gurgel, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF), denúncia contra Farias e dois ex-gestores do instituto, Gustavo Falcão Silva e Luciano Otávio Dutra Leite, que já tinham sido condenados pelo Tribunal de Contas a devolverem R$ 2.357.917,32, por aplicações ilegais no mercado financeiro, usando recursos do órgão previdenciário.
O rombo do Previni chegou a ser investigado na época da denúncia pela Câmara de Vereadores, mas os membros da bancada do prefeito fizeram uma operação “abafa” para livrar Lindbergh e os demais acusados, não permitindo a aprovação do relatório final, que apontou vários crimes. Os documentos – com provas específicas – foram encaminhados ao Ministério Público e Polícia Federal, gerando o processo no STF. Na época da CPI um grupo de vereadores trabalhava no sentido de tentar desqualificar o relatório final, que apontou um rombo de cerca de R$ 400 milhões no instituto.
O relatório mostrou a existência de 13 irregularidades, que configuram desde atos de improbidade administrativa até crimes de falsificação de documentos públicos e contra o sistema financeiro nacional. O documento, anexado ao processo, responsabiliza ainda o ex-prefeito e Gustavo Falcão Silva, pela descapitalização da previdência municipal, que deveria ter em seus cofres em março de 2010 – época da CPI – pelo menos R$ 356 milhões em caixa e contava com pouco menos de R$ 10 milhões. No relatório o presidente do Previni, à época.
*O espaço está aberto para manifestação dos citados na matéria