Da casta de branco

Gebe-Gebe é um lugar de alguns habitantes no interior de algum estado Brasileiro. Lá não tem médico, pois nenhum dos doutores formados no Brasil quer ir para lá. Talvez se achem bons demais para um lugar – aos olhos deles – tão pobre, tão ruim, tão sem jeito… Aí o governo teve a ideia de atrair profissionais estrangeiros, dando-lhes um incentivo e concedendo-lhes facilidades de adaptação. Pronto, bastou surgirem interessados em trabalhar até lá em “Deus-me-livre”, para os doutores nacionais protestarem: “Espera aí, os bons somos nós. Essa gente não está preparada, manda esse povo de volta porque esse mercado é só nosso…” Coitados! Os que agem assim são apenas uns bobões se achando no direito de decidir quem deve ou não ser socorrido.

Muitos municípios ainda não conseguiram se cadastrar no programa “Mais Médicos” do governo federal, pasmem, por conta da alta rotatividade, gerada exatamente pelos que não gostam de trabalhar em determinados lugares. Magé, no estado do Rio de Janeiro, é um deles. O troca-troca de profissionais emperra o cadastro nacional que registra a lotação no sistema público de saúde e isso dificulta muito as coisas, impedindo a participação em programas específicos. A coisa mais difícil – os próprios secretários de Saúde costumam dizer isso – é trabalhar com médico. Tem os que, sobrecarregados pela falta daqueles que querem o emprego público e não a faina, o labor, trabalham por dez e não ganham nem por um, enquanto a casta, os privilegiados, os de sangue azul, aparecem quando querem, a hora que querem e, em muitas situações, batem o ponto e vão embora. Vários casos desses estão sendo investigados pela Secretaria Estadual de Saúde, que constatou que Marcelo Amaral Carneiro, por exemplo, (que além de médico é vereador em Araruama) tinha 13 empregos, mas só era encontrado mesmo nos consultórios particulares, flagrante dado ainda no ex-secretário de Saúde e no vice-prefeito da cidade.

Conheço muitos profissionais extremamente comprometidos e para homenagear a esses cito como exemplo o mageense Antonio Morgado. Porém, há mesmo aqueles senhores da vida e da morte que, repito, querem o emprego público, mas não o trabalho. A esses incluo na casta de branco, que se pudesse, formaria uma classe social separada das outras por diferenças de riqueza, posição social, qualidade, natureza ou gênero, pois essa é a definição mais apropriada aos que, por conta de um comportamento de quem se acha muito especial, imprescindível, incomparável, não querem ir para Gebe-Gebe e tentam atrapalhar os que pretendem ir.

Voltando ao “Mais Médicos”, em agosto um grupo desses “incomparáveis”, fez uma manifestação racista, idiota ao extremo, contra os médicos estrangeiros que aceitaram trabalhar no Brasil, indo para os lugares onde os imprescindíveis não querem ir. Essa demonstração de idiotice explícita aconteceu em Fortaleza, capital de um dos nove estados nordestinos, região na qual há um enorme déficit, pois os príncipes e princesas de branco não querem ir para lá.

Esperneiem, gritem, me processem se assim desejarem, mas a opinião do elizeupires.com é de que no Brasil não falta médico e sim comprometimento de grande parte desses profissionais, que vivem reclamando de salário baixo, mas não dispensa o emprego público, principalmente se puderem marcar o ponto e voltar para os consultórios particulares, onde podem selecionar a clientela.

Comentários:

  1. …mas para isso funcionar temos que ter um Secretariado e equipe seria que conheca estatsticamente os problemas do bairro que fiscalize e dê estrutura para esses funcionarios trabalharem para que os medicos nao desistam de atender. Um sistema de atendimento capaz de fazer e acontecer. Vagas! Isso seria apenas um bom comeco.

  2. Eu moro num Gebe-Gebe e creio que existem pessoas capazes de mudar essa situacao. Quem sabe um medico conhecedor dos sete mares de nossa cidade possa entender tudo isso.

  3. O percentual de médicos estrangeiros no Brasil vai ao máximo a dois por cento. Nos país desenvolvidos fica entre 25% e 40%. Os nossos devem ser o máximo mesmo. Que venham os estrangeiros,

  4. Oi, Elizeu. Gostei do Gebe-Gebe. Tem muito lugar assim por esse imenso Brasil e o governo tem mais é que atrair médicos estrangeiros mesmo. Quem não quer trabalhar que dê o lugar para outro.

  5. Meu querido Elizeu Pires, alguns bairros aqui de Itaguaí estão igual a essa Gebe-Gebe. Os médicos brasileiros não querem nada com o batente. Que venham os cubanos, peruanos, bolivianos ou de quaisquer outras nacionalidades. Nós queremos é médico e não fazemos a menor questão que sejam Brasileiros.

  6. O senhor jornalista é ofendendo toda uma categoria. A coisa não é bem assim. Existe muito profissionalismo, mas a categoria tem de lutar por seus direitos.

    1. A coisa não é bem assim não. É pior. O Elizeu está retratando a verdade. Tem muito doutorzinho por aí achando que pobre não tem direito a atendimento. Pau neles, Elizeu.

  7. Esquecendo tudo de podre que pode estar por trás da implantação do Programa Mais Médicos, é uma tentativa de melhorar a situação e que só o tempo dirá se vai dar certo ou não. O problema todo é que, contra a má gestão de pessoal e de recursos públicos, contra a corrupção e contra a incompetência, não há Mais Médicos que resolva. Me expliquem como alguém pode fazer e como é permitido que se façam plantões de 24, 48 ou 72 horas? Como pode um auxiliar de enfermagem ou um acadêmico fazer as vezes de um médico ou de um enfermeiro? Como é possível se deixar um hospital ou um posto de saúde sem manutenção e sem materiais e equipamentos hospitalares? Porque nossas Câmaras de Fornecedores…ops, de Vereadores não fiscalizam nada? Porque não tem nenhum profissional área médica preso por trabalhar em 13 lugares ao mesmo tempo? Enfim, podres e podridão a parte, temos que torcer para que pelo menos, os profissionais que estão chegando sejam competentes.

  8. Deu no Jornal Extra de 25/08/2013 sobre o Programa Mais Médicos:

    “Nilópolis e Magé não vão receber médicos, nesse primeiro momento, porque não formalizaram no Ministério da Saúde os pedidos de profissionais.”

    Leiam mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/baixada-fluminense-recebe-medicos-da-zona-sul-do-rio-9688438.html#ixzz2ffPYwR8e

    Este caso só comprova que não se pode por a culpa de todas as mazelas somente nos profissionais da área de saúde. Nossos governantes também tem muita culpa no cartório.

    1. Deu no elizeupires.com, nessa mesma matéria que você postou isso: “Muitos municípios ainda não conseguiram se cadastrar no programa “Mais Médicos” do governo federal, pasmem, por conta da alta rotatividade, gerada exatamente pelos que não gostam de trabalhar em determinados lugares. Magé, no estado do Rio de Janeiro, é um deles. O troca-troca de profissionais emperra o cadastro nacional que registra a lotação no sistema público de saúde e isso dificulta muito as coisas, impedindo a participação em programas específicos”.

  9. Gebe-Gebe, gato, fica aqui bem pertinho de nós e é verdade que muitos médicos querem o emprego público e nada de trabalho. Espero que o programa Mais Médico possa resolver o problema nas Gebe-Gebe da vida.

  10. Gente que não trabalha e que não gosta de trabalhar existe em qualquer profissão. Porém no caso dos médicos o problema não parece se resumir a isso. Trabalhar responsabilizando-se por vidas sem condições adequadas de trabalho (como acontece principalmente no interior) não é para qq um. Se o profissional tiver opção de trabalhar em um consultório, por exemplo, com a mesma remuneração por que irá para a saúde pública? O que há de desonesto nesta opção?
    Os maiores problemas do mais médicos são que esses profissionais chegam para trabalhar sem a validação de seus diplomas, a qualidade de sua formação é no mínimo questionável. Cuba ? Para quem não sabe Cuba não tem acesso livre à internet, seus profissionais não participam de congressos técnicos internacionais, não há mais recursos para pesquisas como já houve no temo da guerra fria. É possível a medicina (ou qualquer outra disciplina técnica) se desenvolver nestas condições?
    Os médicos estrangeiros que aqui estão chegando não serão sequer

  11. Magé se cadastrou no programa sim , esta tudo certo, quem tiver duvidas ou não acreditar é só se encaminhar a secretaria de saúde do município e se informar, estão vendo noticias antigas e que não correspondem com a verdade, procurem saber, a parte de Magé esta feita, a saúde não vai bem mas não sejamos injustos, quem quiser pergunte a coordenadora de ateñção básica ou ao secretário de saúde!!!

    1. Prezado Raul, com todo respeito, não fui injusto em hora alguma. Apenas postei uma notícia que foi veiculada em um dos jornais de maior circulação do país e que dizia que Magé e Nilópolis não receberiam médicos em um primeiro momento, porque não formalizaram no Ministério da Saúde os pedidos de profissionais. Magé hoje pode estar inscrito no programa, mas em 25/08/2013 não estava.

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