Patrão no papel, empregado na realidade

Trabalhador humilde seria “laranja” de político em empresa que fatura alto na Prefeitura de Itatiaia

A contratação da empresa KM de Resende Serviços Industriais Ltda., que já recebeu cerca de R$ 2,5 milhões dos cofres da Prefeitura de Itatiaia, na Região das Agulhas Negras, no estado do Rio de Janeiro, pode ter envolvido um esquema de tráfico de influência, falsidade ideológica e fraude em licitações. É que Paulino Francisco da Silva Filho, que aparece no contrato social como um dos donos da firma, é, na verdade, um trabalhador subordinado ao ex-vereador Cristian de Carvalho, primo de Cátia Amaral de Carvalho, sócia majoritária da empresa. Segundo já foi revelado pelo elizeupires.com, Cristian seria o verdadeiro administrador da KM, já que a “dona” é empregada de outra empresa, a Resitamix, sediada no município de Resende.

A relação empregatícia de Paulino Filho foi revelada pelo pai dele, Paulino Francisco da Silva, morador, com o filho, de uma casa humilde da Rua Benedito Correa Soares, no bairro Jardim Martinelli, na localidade de Penedo. Paulino, o pai, afirmou que o filho trabalha para o ex-vereador Cristian de Carvalho, informação que foi confirmada por vizinhos. A subordinação de Paulino Filho a Cristian contradiz a alteração no contrato social da KM, já que segundo o documento, Paulino Filho poderia ser patrão de Cristian e não empregado. Isso reforça a suspeita de Paulino Filho ser um “laranja” de Cristian, para que o nome do ex-vereador não aparecesse como dono da KM.

De acordo com o documento, Paulino Filho entrou como sócio na KM no final de janeiro de 2012, quando o documento foi protocolado na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerja), seis meses antes de o patrão de Paulino Filho, Cristian (PMDB), ser anunciado como vice-prefeito na chapa do atual prefeito Luis Carlos Ypê (PP), que naquele ano disputava a reeleição. A alteração contratual reforça a tese de que o grupo arquitetou a entrada da KM na Prefeitura de Itatiaia, porque Cristian não poderia ser sócio de uma empresa contratada pela Prefeitura e vice-prefeito ao mesmo tempo, fato que explicaria o uso de uma pessoa como “laranja”, no caso, Paulino Filho. Cristian, no entanto, acabou substituído pelo atual vice-prefeito Edmar Barbosa (PSC) depois que o TRE decidiu pela dissolução da dobradinha Ypê-Cristian, por causa de uma intervenção da executiva estadual do partido de Cristian na época, o PMDB, que retirou o apoio do partido à reeleição do atual prefeito.

A denúncia, que será encaminhada para o Ministério Público, envolve ainda o secretário de Fazenda de Itatiaia, José Roberto Ferreira Domingos, o Beto, que coincidentemente também é contador particular e testemunha das atividades da KM. Foi Beto quem redirecionou  o ramo de atuação da empresa, cuja data expressa no documento é 11 de março de 2011, quase um ano antes de ser protocolado na Jucerja e meses antes de o Departamento de Licitações da Prefeitura, setor subordinado a Beto na administração municipal, declarar vencedora a mesma KM, o que leva a crer que a manobra foi combinada entre o grupo. A prestadora de serviços pode ter sido favorecida na concorrência uma vez que estaria inapta para a licitação, já que a habilitação da empresa para este ramo de atividades, segundo o documento, só foi expedida em fevereiro de 2012 pela Jucerja, três meses depois da assinatura do contrato da KM com a Prefeitura. Paulino Filho substituiu o químico Marco Antonio de Carvalho, primo de Cristian, na sociedade da KM que ainda tem como sócia majoritária a esposa de Marco Antonio, Cátia Amaral de Carvalho.

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