Dr. Henrique Paes
Esse ano a Estrada Real do Comércio completa 200 anos. Ela foi construída no tempo do Brasil império e servia para receber o ouro que vinha de Minas Gerais que, através de Nova Iguaçu (então Vila Iguassú), escoava para todo o Rio de Janeiro. Isso nos leva a refletir sobre a mobilidade urbana nos dias de hoje, após 200 anos, e que é um dos maiores problemas enfrentados no dia a dia pelos trabalhadores e trabalhadoras dos municípios que pertencem ou não à Região Metropolitana do Estado. São pessoas que diariamente ficam reféns de um sistema que mais parece um castigo diário imposto em razão da falta de investimentos mais significativos em transportes públicos e melhoria de vias.
Quem anda de trem nas primeiras horas da manhã sabe bem sobre o que estou me referindo. Mas não só os que andam de trem. Até o metrô nos dias de hoje perdeu aquela comodidade do passado e a linha que saí da Pavuna em direção ao Centro do Rio se transformou em penúria para esses trabalhadores e trabalhadoras. São pessoas que precisam chegar cedo nos seus trabalhos. Elas são obrigadas a saírem duas horas ou mais cedo – às vezes às 4 horas da manhã – do que deveria para seguirem o trajeto até o serviço, isso para tentar disputar o direito de ir sentado para o trabalho. Mesmo assim nem sempre conseguem. Ir dignamente bem acomodado ou até mesmo dentro de um veículo que lhe ofereça o mínimo de conforto é um sonho que deveria ser uma realidade obrigatória. Mas continuamos distante disto. E olha que esse problema não é de agora. Eu mesmo, com muito esforço, consegui comprar um carro, mas sei bem o que é a vida nos transportes públicos nas primeiras horas do dia. É por essa razão que essa é uma das minhas preocupações e um assunto que mexe comigo.
Não é de hoje que qualquer cidadão ou cidadã que mora na Baixada já ouviu falar do apelo da localidade para que o metrô chegue para atender essa massa de pessoas da região. A Via-Light e a Rodovia Presidente Dutra já não conseguem absorver a quantidade de veículos que se deslocam para o Rio. Olha que nem falo da qualidade dos ônibus, por exemplo. Falo dos engarrafamentos, esses que afetam pessoas as mais diversas classes. Ônibus e veículos de passeio se misturam nas nessas vias e por essa razão as buscas pelos transportes de massa aumentam significativamente.
Poderia falar aqui sobre inúmeras situações que afetam no transporte diário de pessoas. Que afetam na qualidade de vida, na saúde e até interferem na economia local. Por isso entendo que o Congresso Nacional precisa discutir, com urgência, meios alternativos de oferecer mais dignidade nesse tipo de serviço público e de suas vias. Nossos trabalhadores e trabalhadoras estão pagando um preço alto pelo sistema que aí está posto. Não é somente o pedágio que é o problema de transportes. Ele é um deles. Mas o problema maior é um transporte de massa que não massacre a força de trabalho e que tanto cansa os nossos trabalhadores. Um transporte que faça jus ao seu preço. Vias de acessos que façam jus à pressa que temos para uma mobilidade urbana menos agressiva com os seus usuários. Sejam os de transportes públicos de massa, veículos de passeio ou mesmo os utilitários.
O Brasil e o Rio de Janeiro precisam discutir sobre esses gargalos que sufocam o povo, a vida e a economia fluminense. Precisamos oferecer o básico para milhões de pessoas que não aguentam mais sofrer com a deficiência desses setores.
*Henrique Paes é médico e empresário