De acordo com o Relatório sobre Notícias Digitais do Instituto Reuters – uma das mais importantes pesquisas do mundo sobre o tema – o Brasil é o pais mais preocupado com as noticias falsas, as ‘fakes news’ que criam um transtorno danado e destroem reputações. Mas e daí? Se analisarmos sem entrar no mérito da questão nos daremos por satisfeitos em saber que 85% dos brasileiros entrevistados demonstram preocupação, mas preocupar-se somente resolve a questão? Claro que não. As notícias inverídicas só têm a proporção que tem no Brasil por causa da preguiça de ler. Em vez de lerem todo o texto muitos param no título, tiram suas conclusões e comentam com o cotovelo. Não leram o “quando, onde, como e por que”, mas já formaram opinião.
Os que assim procedem são presas fáceis para os propagadores de mentiras como aquela que diz que a vereadora Marielle Franco teria sido casada com um traficante, o que mais que uma tentativa de desqualificar a voz que as minorias tinham na Câmara do Rio, foi um ataque a honra, uma mentira gratuita e fatal.
O Faceboock e o WhatsApp são ferramentas fantásticas, mas muito mal usadas no Brasil. Quem nunca recebeu um vídeo que – nenhuma emissora do mundo veiculou – seguido da seguinte colocação: “Isso a Globo não vai mostrar”? Também tem coisa desse tipo: “A Polícia Federal acaba de invadir a Câmara dos Deputados e prendeu todos eles”. Mentira!
Durante a greve dos caminhoneiros, por exemplo, circulou um desses que “a Globo não mostra”. A imagem era de um helicóptero da PRF pousando nas margens de uma rodovia e a postagem trazia um texto mais ou menos assim: “O piloto de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal pousou a aeronave na pista e, em apoio aos caminhoneiros, transmitiu o hino nacional”. Muitos recebem essas coisas, saem espalhando e completam: “Isso não vão mostrar”.
A pesquisa analisou o quadro em 37 nações e constatou que os países menos preocupados são Holanda (30%), Dinamarca (36%), Suécia (36%), Alemanha (37%) e Áustria (38%). Sabem por que o índice de preocupação nessas nações é mais baixo? Por lá eles lêem. Não ficam apenas no título, por tanto não tem com o que se preocuparem, pois lêem o conteúdo e logo discernem sobre o que é fato e o que não é.
Aqui no elizeupires.com deparamos com a tal preguiça de ler todos os dias, não em relação aos que fazem o acesso direto ao blog. O problema está lá no Faceboock, onde a página disponibiliza os títulos dos textos com o link para os interessados buscarem o conteúdo e formarem opinião. Não dá outra. Chovem comentários fora do contexto e palavras ofensivas. Ou seja: a pessoa não leu a informação para poder avaliar se o assunto é verdadeiro ou não, mas já tem uma opinião formada.
Eu penso que não precisamos de uma lei específica contra as ‘fakes news’. A legislação que temos, como diz o ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal, é suficiente. Basta usá-la para enquadrar os autores das notícias falsas e colocar no mesmo balaio os que tratam da propagação. Vou mais adiante: creio que quem vai acabar com o fenômeno das ‘fakes news’ é o povo mesmo, pois o leia mais, meus caros, pode fazer toda a diferença.