Somando 108 deputados e dez senadores, a Bancada da Bíblia ou dos evangélicos – como preferirem – está se achando. Quer impor uma pauta de costumes, quando a prioridade deveria ser o país e questões que vão muito além dos templos que não pagam impostos, não rendem um centavo sequer aos cofres públicos. Mais uma vez o assunto é a transferência da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém, como se isso tivesse uma enorme importância para a nação. O bloco do “nós acima de tudo e de todos” parece ver nessa mudança a solução para todos os problemas nacionais. Ignora, por exemplo, que se levada a efeito, a transferência pode causar um baque e tanto na economia brasileira…
Depois de pregar no deserto, defendendo tratamento especial para o ex-senador Magno Malta, o deputado Sóstenes Cavalcante, líder do bloco, agora ataca o vice-presidente Hamilton Mourão porque este, ao contrário do titular, olha o tempo todo para frente, já desceu do palanque e defende interesses nacionais, não bandeira de grupos.
Em entrevista ao Estadão Sóstesnes disse que vai pedir que o presidente Jair Bolsonaro desautorize o vice publicamente. Chegou a sugerir que Mourão está a serviço de algum grupo contrário aos interesses dos evangélicos. É que os “donos da verdade” não perdoam o vice por duas falas que ecoaram aos ouvidos dos “procuradores de Deus” aqui na terra como pecado mortal: Mourão se manifestou contra a transferência da embaixada e teve a coragem de dizer que o aborto deve ser uma escolha da mulher.
A vontade dos evangélicos – se atendida pelo presidente – pode causar sérios prejuízos aos exportadores de carne bovina e de frango para os países árabes, empresas que, ao contrário dos templos, geram emprego e renda, pagam tributos pesados e aquecem a economia nacional.
Aí, quando se pensa que além da motivação bíblica o bloco teria uma razão mais forte para forçar a mudança da embaixada para Jerusalém, surge um pastor dizendo que isso facilitaria as viagens para Israel. Que argumento, forte gente! Ou seja, o bloco estaria mais interessado na possibilidade de uma maior oferta de voos para atender a rica demanda das caravanas organizadas por igrejas para levarem os seus a percorrerem os caminhos do mundo antigo, do que em defender as importações para os países árabes?
Baixo clero a parte, quando o bloco fala em exigir do presidente uma atitude contra o vice, deixa no ar uma pretensão de tutela, esquecendo-se de que Jair Bolsonaro é o presidente de todos os brasileiros e não um despachante dos que insistem em impor a Bíblia como Constituição, dos que estão lá no Congresso para defender costumes e não pautas nacionais como a prioritaríssima agenda econômica.