●Josué Medeiros
Em 28 de setembro, o instituto Atlas publicou uma pesquisa ao Senado do Rio de Janeiro com Alessandro Molon pontuando em 20,9% das intenções de voto, em empate técnico com Romário. São números muito discrepantes dos demais institutos. O sentido da pesquisa é inequívoco: provocar um movimento de voto útil progressista em direção ao deputado do PSB, especialmente do eleitor que apoia o candidato petista André Ceciliano.
O problema é que a pesquisa é, para dizer o mínimo, estranha. A segmentação de escolaridade apresenta 31% dos entrevistados com ensino superior completo ou incompleto, um percentual elevado que chama atenção. Dados do INEP de 2019 apontam para o total de 20% da população com esse nível de escolaridade no Brasil. O Rio de Janeiro seria mesmo tão diferente do resto do país?
Outra segmentação problemática é a da renda. O Atlas delimita em 31% o total de pessoas com renda familiar de até R$2000,00. Todos os demais institutos de pesquisa trabalham com uma margem maior: A Quaest delimita esse contingente em 38%; a FSB em 44%; o IPESP e o PoderData em 46%; o DataFolha em 51% e o IPEC em 55%. Nada indica que o Rio de Janeiro tenha um número mais baixo de pessoas vivendo com até 2 salários mínimos.
Coincidentemente, Molon cresce em intenções de voto conforme o eleitor tem mais escolaridade e perde conforme a renda é menor.
Para além das estranhezas, o fato é que o voto ao Senado é o último que as pessoas decidem. Historicamente, as pesquisas de intenções de voto para o Senado têm pouco valor por essa razão. Algumas viradas históricas ocorreram justamente porque a mobilização dos últimos dias produz movimentos no eleitorado que os levantamentos não conseguem captar a tempo.
No caso do atual cenário do Rio de Janeiro, a variável que escapa às pesquisas é o enraizamento da candidatura de André Ceciliano nos municípios fluminenses. Trata-se do massivo apoio que o presidente da Alerj tem de prefeitos, vereadores, candidatos a deputado estadual e federal em todas as regiões e de diferentes partidos.
Esse dado do enraizamento mais o fato de que as pessoas ainda não decidiram o voto para o Senado podem se somar à onda Lula que já está ocorrendo e impulsionar a candidatura de André Ceciliano.
Convém não subestimar convergências desse tipo. As urnas gostam de pregar peças nas certezas de analistas e na frieza das pesquisas.
*Josué Medeiros é cientista político e professor da UFRJ e coordenador do Observatório Politico e Eleitoral (OPEL)