Ainda bem que sou forasteiro

● Elizeu Pires

Tenho uma relação de amor com Magé, coisa antiga que começou ainda nos tempos de faculdade. Desde 1982 escrevo sobre esta cidade, onde fiz grandes reportagens. Tenho orgulho de dizer que minhas primeiras matérias foram estampadas nas páginas de um semanário local, “Folha de Magé”, comandado por Cirlo Cunha. Conheço os mageenses e seus problemas, e meus colegas de profissão dizem que sou pós-graduado na matéria Magé. Não é tanto assim, mas realmente sei o bastante para me expressar da maneira que o farei agora.

Nunca vi povo tão omisso como o de Magé. Baixa a cabeça e caminha silenciosamente em direção ao matadouro. Tem sido assim há muito tempo. É um misto de conformismo e covardia, uma situação provocada e alimentada pelos poderosos que precisam de um povo acuado para se perpetuarem no poder. O que sempre ouvi deste povo conformado e omisso é algo como “isto é assim mesmo, ruim com eles, pior sem eles” ou ainda “lá vem os forasteiros meterem o bedelho em Magé”.

A questão é que muitos dos que vejo se esforçando por dias melhores não nasceram nesta cidade e alguns nem nela vivem. Podem me xingar à vontade, mas o que mais vejo são os valorosos filhos da terra se omitindo. Me lembro, por exemplo, de uma OAB atuante. Faz tempo isto. A de hoje se cala, colocou uma venda nos olhos e tapou os ouvidos.

Dia desses um dos muitos doutores da OAB comentava sobre mim com outro doutor que me conhece bem e indagou: “Onde este forasteiro quer chegar?” A lugar algum, doutor. Cheguei onde pretendia quando comecei meu exercício profissional. Se o senhor e os outros filhos da terra querem saber, tenho muito orgulho em ser forasteiro, pois, se não o fosse, talvez seria também um conformado adormecido sobre a covardia, assim como o senhor.

Esta semana recebi muitas mensagens condenando a atuação da chamada “gente de fora”. O problema, amigos, é que se depender somente da “gente de dentro”, Magé continuará sendo uma imensa fazenda, o Palácio Anchieta a casa grande e os moradores os meeiros, aqueles pobres coitados que trabalham arduamente sob sol ou chuva para depois dividirem o resultado deste esforço com o dono da fazenda.

Amigos, parem com essa concepção, pois os “forasteiros” que tanto incomodam o poder estão lutando a luta dessa omissa “gente de dentro”. Eu, repito, estou muito feliz em ser um “forasteiro”. Me envergonharia muito ser um filho da terra omisso, covarde ou coisa parecida. Pensem nisso, porque realmente tem muita “gente de fora” metendo o bedelho sim, mas para o bem dessa “gente de dentro”, desse povo sofrido que curte suas dores embalado pelo conformismo à sombra da covardia.

Envie seu comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.