Uma imagem sem nenhuma semelhança

● Almeida dos Santos

Antes de falar da vitória do Tuninho da Padaria como pré-candidato do PT em Nova Iguaçu à Prefeitura, preciso esclarecer que nada tenho contra o Tuninho e o jogo político está dentro das regras eleitorais que compete o partido escolher quem será o seu representante. Esclarecido isso, digo que como observador do processo político, por mais de duas décadas escrevendo sobre política, vejo que a vitória do Tuninho da Padaria para representar o Partido dos Trabalhadores na disputa eleitoral em Nova Iguaçu fala mais do atual momento PT iguaçuano do que propriamente do Antônio Araújo Ferreira, o Tuninho.

Sabe-se que ele não é um quadro crescido nas bases do PT e nem tampouco a sua militância no partido tem um longo histórico de reconhecimento. Sabe-se, inclusive, que o Tuninho, por sua trajetória, não traduz a imagem do PT das antigas campanhas municipais eleitorais com a identidade do PT. Mas, repetindo, novamente, compete ao PT escolher quem o representará e Tuninho foi o escolhido. Isso é ponto confirmado e pronto. E ainda acrescento que é assunto interno do PT. Mas como quem procura ler o processo político através dos seus acontecimentos, a pergunta que me faço é essa: que raios de política é esta que levou Tuninho da Padaria a ser o retrato do PT numa disputa eleitoral iguaçuana?

No domingo passado, dia 3, vi na escolha do Tuninho da Padaria como candidato do PT o entusiasmo incontido do ex-prefeito Lindenberg Farias. Afinal, mais que candidato próprio do PT, Tuninho é o candidato do Lindbergh Farias. Talvez pela primeira vez vejo que o candidato de um deputado foi levado para ser o candidato do partido, mas não tradicionalmente a imagem do partido. Tuninho é imagem do candidato do Lindbergh. Isto posto, Lindbergh Farias é a legenda e Tuninho o candidato dela.

Ainda sobre no dia da escolha do Tuninho como o candidato do Lindbergh, vi o entusiasmo de alguém que a classe artística iguaçuana chegou a fazer abaixo-assinado para a sua saída do governo, pois seu cargo era uma indicação do Lindbergh que desagradou aos fazedores de cultura em Nova Iguaçu.

Trata-se do Juarez Barroso, pese também não ter nada pessoal contra ele, mas foi o secretário de Cultura mais criticado que vi nos últimos tempos. Passou por outras pastas na administração iguaçuana, mas foi na secretária de Cultura da primeira gestão do Rogerio Lisboa que a sua permanência se inviabilizou. Vi nas redes a volta do Juarez Barroso na comemoração do Tuninho e imagino o quanto deve estar feliz pelo projeto pessoal do seu grupo.

Em suma, a candidatura do Tuninho da Padaria pelo PT, hoje, poderá render ao partido um preço alto nos próximos anos. Se ganhar não será a cara do PT a que vai governar. Se perder será a imagem do PT que ficará como derrotada. E isso não adianta que não sairá do inventário da história do PT na cidade a candidatura do Tuninho.

Lindbergh Farias, que governou Nova Iguaçu e eventualmente aparece na cidade, até pouco tempo dizia numa rádio local que irredutivelmente seria candidato à Prefeitura de Nova Iguaçu e disto não abriria mão, mesmo vencendo para deputado. Portanto isso leva a crer que hoje, Tuninho candidato, é só o “boneco de ventríloquo” do Lindbergh. Mas o chato é que isso levará a estrela do PT que muita gente no passado fez brilhar. Mas, como é o Lindbergh, ele acha que seu brilho próprio irá iluminar o Tuninho para que na sombra dele possa operar em Nova Iguaçu. 

*Almeida dos Santos é jornalista e acompanha a política iguaçuana há mais de 25 anos.

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