Um voto decisivo para reprovar as contas do ex-prefeito de Casimiro de Abreu, Antonio Marcos Lemos – analisadas no dia 11 de abril deste ano – teve o preço fixado em R$ 100 mil por um empresário que tem contratos com o município. Denúncia nesse sentido foi feita nesta sexta-feira (13) ao Ministério Público pelo vereador Leilson Ribeiro da Silva, o Neném da Barbearia (MDB), que entregou à Promotoria cinco arquivos de áudio com conversas entre ele, o presidente da Câmara Rafael Jardim, o também vereador Bruno Miranda e o empresário Wender Veloso, o Careca do Gás, que confirmou a proposta, quantia que seria paga em um apartamento que o prefeito Paulo Dames mantém em Niterói. Em sua declaração à Promotoria de Justiça Neném afirmou que Careca assegurou que falava em nome do prefeito Paulo Dames e que ele próprio o levaria até ao apartamento de Dames, para que o valor fosse pago em espécie. O objetivo seria deixar Antonio Marcos inelegível por oito anos, para que o ex-prefeito ficasse impedido de voltar a disputar a Prefeitura em 2020.
Em um depoimento de três laudas ao qual o elizeupires.com teve acesso, Neném contou que inicialmente fora chamado por Bruno Miranda para falar sobre a votação das contas do ex-prefeito e logo de cara percebeu que o papo giraria em torno da compra de seu voto. Depois desse início, afirmou, foi levado por Bruno ao gabinete de Paulo Dames, onde ouviu do prefeito que outra conversa seria marcada, o que de fato ocorreu uma semana antes do dia da votação. O novo encontro foi na casa de Neném, no bairro Palmital, onde ele ouviu de Bruno que este já tinha R$ 50 mil para que o agora denunciante não comparecesse à sessão que foi marcada para o dia 11 de abril.
Pelo que consta no depoimento no segundo encontro ele disse a Bruno que R$ 50 mil eram pouco e que falou isso para “dar uma valorizada na conversa”, tendo Bruno respondido que a proposta poderia chegar a R$ 70 mil e que Neném ainda falaria com o prefeito para conseguir cargos no governo. Ainda segundo o depoimento, três ou quatro dias após essa conversa o presidente da Câmara chamou Neném para almoçar e durante o almoço – que ocorreu no Restaurante Bambu – Rafael Jardim lhe perguntara se ele já tinha se decidido sobre aceitar a proposta e que em política é assim mesmo.
Dinheiro seria entregue no apartamento do prefeito – Depois do encontro com o presidente da Câmara, contou Neném, a conversa foi com o empresário. Wendel, afirmou o denunciante, telefonou para ele no dia 10 de abril e se ofereceu para levá-lo de carona do bairro Palmital ao centro de Casimiro de Abreu, pois queria falar com ele.
“…Careca passou a falar com o declarante sobre a compra de seu voto contrário à aprovação das contas do ex-prefeito Antonio Marcos; que Careca afirmou que estava ali em nome do prefeito Paulo Dames e que estava fazendo aquilo devido ao momento político; que Careca lhe ofereceu R$ 100.000,00 (cem mil reais) e que esse valor seria acertado por Careca e um outro empresário da cidade de nome Fernando; que Careca lhe disse que levaria o declarante ao encontro de Paulo Dames no apartamento deste em Niterói; que seria lhe dado o montante e o declarante poderia conversar sobre outros assuntos políticos; que o pagamento, se aceito, seria feito em espécie”, diz um trecho do depoimento.
Contas aprovadas – Para uma prestação de contas ser aprovada são necessários os votos favoráveis de no mínimo dois terços da composição da Câmara, seis no caso do município de Casimiro de Abreu, cujo Poder Legislativo é integrado por nove vereadores. Como o ex-prefeito já tinha os dois terços garantidos, estratégia seria mudar pelo menos um voto e o escolhido foi o vereador Neném da Barbearia, que resistiu à tentativa de compra do seu voto.
Pelo que está no depoimento o vereador que denunciou o esquema recusou a proposta até o fim. Está claro que Neném – que gravou as conversas usando seu aparelho de telefone celular – pretendia reunir provas, pois já tivera outras conversas antes e não tinha como denunciar por não poder provar o que revelaria.
A sessão em que as contas de Antonio Marcos foram apreciadas pelo plenário aconteceram mesmo no dia 11 de abril e votaram pela aprovação, além de Neném, Ramon Gidalte (PPS), Adriano Santos Lima (PV), além de Ozilei Alves Moreira, o Lelei da Marmoraria (PSL); Marcos Frese Miller, o Marquinho da Vaca Mecânica (PEN) e Ademilson Amaral da Silva, o Bitó (PSC). Pela reprovação votaram Rafael Jardim, Bruno Miranda e Alex Neves, todos do PSB.
Os vereadores Rafael Jardim e Bruno Miranda foram procurados hoje para falarem sobre o assunto, mas não foram encontrados.