“Donos” de Nova Iguaçu continuam ditando as regras do transporte

Empresas de ônibus fazem o que querem e o poder público fica assistindo de braços cruzados

Apontados como generosos financiadores de campanha eleitoral, os empresários do setor de transporte de passageiros são vistos como os donos da Baixada Fluminense, onde prestam o serviço de acordo com suas vontades, fazem o que bem entendem e nada acontece. No município de Nova Iguaçu, por exemplo, onde a situação de nada difere da verificada nas demais cidades da região, o prefeito Nelson Bornier anunciou – em outubro do ano passado – a decisão de “mexer, mudar e acabar com vícios das empresas de ônibus e seus comandantes/empresários”, mas passados dez meses desse discurso, a bagunça permanece. Não se mexeu em nada e os interesses dos “donos” da cidade continuam intocáveis.

“Essa subserviência do poder público aos empresários de ônibus em nossa cidade é histórica. Ao longo dos anos a Câmara Municipal ensaiou várias comissões de investigação e nenhuma delas saiu do papel. Os escritórios dessas empresas são muito conhecidos da maioria dos políticos de Nova Iguaçu e às vezes uma vista grossa sai muito barato. Custa o empréstimo de um ônibus para transportar quem acompanha um sepultamento, levar um grupo de eleitores a um passeio ou transportar um time de futebol. Dessa forma o fiscal do povo acaba relaxando na hora de fiscalizar”, diz um ex-vereador com longo tempo de estrada.

Além de não respeitar os horários e reduzir a frota em circulação quando bem querem, as empresas de ônibus são conhecidas por bagunçar o trânsito na cidade. Inimigas dos motoristas do transporte alternativo no cata-cata de passageiros, se aliam a eles na hora de fechar as ruas com filas duplas e triplas. Isso acontece diante do olhar complacente dos agentes de trânsito, tão rigorosos com quem, por exemplo, parou por uns segundos para deixar o filho na porta do colégio.

Há dez meses, além de “acabar com os vícios”, o prefeito prometeu que faria uma licitação abrangente “para regiões mal servidas e corrigir atos praticados na gestão do prefeito Lindbergh Farias”, referindo-se ao ocorrido em 2009, quando as empresas Auto Ônibus Vera Cruz, Mirante, Viação São José, Linave e Salutran ganharam de presente dez linhas antes exploradas pela empresa Elmar. Nada mudou no município em relação ao transporte de passageiros e, ao que parece, o grito de independência do prefeito, alardeando que acabaria com o domínio das empresas de ônibus, ficou preso em seu gabinete.

O “acordo de cavalheiros” atribuído à gestação anterior fez com que as empresas Vera Cruz e Mirante aumentassem seus domínios. A Mirante assumiu as linhas Nova Iguaçu-Rio D’ouro; Nova Iguaçu-ATA; Nova Iguaçu-Nova Brasília; Nova Iguaçu-Adrianópolis; Nova Iguaçu-Bairro Amaral; Nova Iguaçu-Corumbá e Nova Iguaçu-Gerard Danon, enquanto que a Auto Viação Vera Cruz ficou com as linhas Nova Iguaçu-Vila de Cava e Nova Iguaçu x Santa Rita. As demais rotas do “espólio” da “falecida” Elmar foram para o controle das empresas Viação São José, Linave e Salutran.

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