Quer o poder, general? Dispute a eleição

O general Antonio Mourão convocou os militares para “o despertar de uma luta patriótica”

A “luta patriótica” sugerida pelo ex-comandante militar do Sul, general Antonio Hamilton Martins Mourão, soou como música aos ouvidos dos integrantes daquela tropa que ainda resiste à democracia. Como comandante de um exercito armado ele jamais poderia ter falado uma besteira dessas, assim como não deveria emitir opinião crítica ou elogiosa contra uma presidente da República democraticamente eleita. Concordo que Dilma e o PT estão afundando esse país e que a corrupção parece institucionalizada, mas para isso a própria democracia tem solução e o impeachment é uma delas. Essa tal de “luta patriótica” pregada por Mourão só interessa a ele e aos seus iguais, aos que acham que os militares estão acima do bem e do mal, que são o remédio para toda e qualquer doença.

Essa meia-dúzia que tem saído às ruas pedindo a volta da ditadura militar não pode ser levada a sério e o general Mourão muito menos. Como cidadão ele tem todo o direito de falar o que bem entender, mas ele não se pronunciou como cidadão-contribuinte-eleitor, como o jornalista Hélio Fernandes costumava dizer. Falou como comandante de uma tropa sob a qual tinha, até aquele momento, poder de mando e militar não costuma ignorar ordem, mesmo que essa seja a de baixar o porrete, apontar canhões para as instituições e ameaçar mandar bala.

Vivemos – apesar de Mourão e seus seguidores não gostarem – em estado democrático de direito, onde todo e qualquer cidadão pode pretender um cargo político eletivo, bastando para isso disputar nas urnas, como a democracia assim assegura. Sugiro que Mourão ou qualquer outro linha dura que pensa ser ou ter a solução para o país, se candidate a presidente da República, levando seu nome e propostas à apreciação dos eleitores. Vir com esse papo de “luta patriótica” é coisa de quem quer governar pelo golpe, coisa de quem sabe que chamais chegaria ao poder pelo voto. É a estratégia covarde daquele, que, sem capacidade para construir a casa prefere expulsar o morador na base do “tiro, porrada e bomba” para, então, habitá-la.

Querem o poder, senhores generais? Escolham um nome entre os seus e deixem o povo decidir. Parem com essa ameaça de golpe, com esse papo furado de que precisam salvar o país e essa conversa de que no tempo de vocês não tinha corrupção. Tinha sim, e muita. É que a Polícia Federal era comandada por um general e um monte de coronéis, o Ministério Público tinha mais medo do que vontade de agir e o Judiciário dançava no ritmo das marchas marciais.

Quanto aos jornais nem é preciso dizer: não noticiavam porque em cada redação tinha um censor ao qual cabia dizer o que podia ou não ir para as páginas. E assim sendo, senhores generais, sem investigação e sem noticia realmente não vai aparecer um só caso de corrupção, desmando ou malfeito.