● Elizeu Pires

O que se apresentou como uma chance de renovação para o combalido município de Itatiaia, castigado por sucessivas administrações desastrosas, está se revelando como mais uma decepção. A cidade do Sul Fluminense elegeu o empresário Irineu Nogueira em uma eleição suplementar realizada no último dia 13 de março apostando que tudo ia melhorar, afinal, como dizia o então candidato durante a campanha: “Dinheiro em Itatiaia não falta, o que falta é vergonha na cara, honestidade e vontade de trabalhar.”

Para piorar, também deverá faltar merenda no prato dos alunos da rede municipal de ensino após a descoberta de supostas irregularidades no Processo Administrativo (03636/20222) que previa a aquisição de gêneros alimentícios para as escolas, em caráter emergencial. Episódio que se tornou público no último dia 9, quando um grupo de vereadores resolveu trabalhar após receberem denúncias da suposta compra irregular. Depois do escândalo, Irineu também decidiu agir e acabou anulando o processo de compra, alegando que a Controladoria identificou, pelo menos, duas irregularidades no processo.

Embora o prefeito não tenha especificado quais seriam tais irregularidades, nos bastidores da política local o que se comenta é que o governo de Irineu teria tentado desembolsar um valor muito superior ao que a lei autoriza, em caso de dispensa de licitação. Há quem diga que coisas estranhas teriam antecedido a definição da empresa vencedora que, inclusive, chegou a entregar uma primeira remessa de hortifruti, alimentos que acabaram imediatamente recolhidos.

Nas redes sociais, algumas publicações sugeriram que um ocupante de cargo em comissão, nomeado para dar aula de capoeira, teria sido delegado para integrar a comissão de licitação. O que só será possível afirmar após a sindicância prometida por Irineu, ou se o Ministério Público (MPRJ) for acionado para averiguar os subterrâneos do atual governo municipal. O que já é possível afirmar é que o festival de trapalhadas, e possíveis irregularidades, vai prejudicar mais uma vez os alunos, que já padecem com o péssimo sistema educacional, apesar de morarem em uma cidade detentora de uma das maiores arrecadações per capita do Brasil.

O episódio também marca um recorde negativo para o atual governante, uma vez que Irineu  já está sendo visto como o prefeito que, em menos de 45 dias de mandato, deixou os alunos sem merenda, refeição que para muitos estudantes é a principal alimentação do dia.

Influência de fora – Enquanto a fome assombra boa parte dos estudantes, o chefe de gabinete de Irineu, o ex-vereador de Resende Kiko Besouchet, estaria cada dia mais de “barriga cheia”. O político, que chegou a ser afastado do cargo em 2015 no âmbito da Operação Betrug e virou réu em um processo criminal que investiga uma quadrilha que fraudava licitações na Câmara de Resende, estaria cada vez mais influente no governo de Irineu, cuja fragilidade administrativa e inexperiência política estariam cada vez mais visíveis.

Tanto que o episódio das supostas irregularidades na compra da merenda deverá se desdobrar em uma dança das cadeiras no secretariado de Irineu. Isso porque o atual secretário de Administração, Raphael Pinheiro, estaria sendo rechaçado pelo gabinete justamente por discordar do andamento do processo de compra da merenda. Nos bastidores da política local, o que se comenta é que o rapaz perderá o cargo para Cristhiane Villar, aliada do chefe de gabinete do ex-prefeito de Resende, José Rechuan, que estaria tentando se cacifar no governo de Nogueira de olho numa candidatura de deputado federal. Mas a chegada de Kiko, que se tornou um problema para Irineu, tem o dedo do motorista do prefeito, José Maia, considerado nos bastidores da política local como um influenciador nas decisões do governante.

*O espaço está aberto para os citados na matéria.

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