Valença paga terceirizados até para setor que não funciona

Cruz Vermelha recebe por serviço odontológico suspenso

Em caso de doença no município de Valença, não chame o doutor, porque este pode ser um péssimo conselheiro. O doutor, nesse caso, é o prefeito Álvaro Cabral, que faz questão do “Dr” antes do nome, mas, segundo reclamações dos usuários da rede municipal de saúde, vem fazendo uma péssima administração, priorizando contratatos em vez do ser humano. Os números falam por si e evidenciam isso: só com a Cruz Vermelha – que tem um contrato considerado ilegal com o município – Cabral gastou mais de R$ 7 milhões durante o ano passado, parte desse volume em salários com funcionários terceirizados através da instituição, lotados em setor que ficou parado durante vários meses em 2013, por falta de materiais básicos e continua sem funcionar.

Herança maldita deixada pelo ex-prefeito Vicente Guedes, o contrato com a Cruz Vermelha vem sendo apontado como um grande escoadouro de dinheiro público, recursos que poderiam estar sendo aplicado para garantir melhores salários e condições de trabalho para os doutores e pessoal de apoio que realmente trabalham, mas não recebem nenhuma deferência por parte dos doutores que ficam nos gabinetes refrigerados gerindo mal os destinos de um município, que, segundo lideranças locais, está mergulhado num imenso buraco chamado caos.

Questionado através de uma ação popular patrocinada pela advogada Carla Ferraz e denunciado em ação proposta pelo Ministério Público, o contrato rendeu à Cruz Vermelha R$ 100.130,07 mil em 2011 e R$ 1.666.766,36 no ano seguinte, chegando ao ápice em 2013, com a instituição recebendo dos cofres municipais exatos R$ 7.197.416,86, embora o secretário de Saúde, Sérgio Gomes, tivesse afirmado em audiência na Câmara de Vereadores que o setor estava vivendo uma enorme crise.

A advogada Carla Ferraz sustenta que o contrato é ilegal, está buscando anulá-lo na Justiça e entende que a ilegalidade aumentou anda mais quando, em maio do ano passado, o prefeito mudou o titular do contrato, substituindo a Cruz Vermelha de Barra do Piraí pela Cruz Vermelha do Rio de Janeiro. Ela entende que esse contrato perdeu a validade em agosto de 2013 e que, portanto, a entidade não poderia estar prestando nenhum serviço ao município e muito menos recebendo recursos públicos.

De acordo com levantamento feito por Carla junto ao Fundo Nacional de Saúde, o município de Valença recebeu um total de R$ 21.927.649,89 em repasses para o setor de atendimento médico durante o ano passado e cerca de um terço disso foi parar na conta bancária da Cruz Vermelha, através da contratação de 246 funcionários, sendo 42 – entre fisioterapeutas, dentistas, auxiliares, enfermeiros e vigias – lotados no prédio destinado ao Centro Municipal de Reabilitação Física (CEMURF) e ao Centro de Especialidade Odontológica (CEO), que passou a maior parte de 2013 sem materiais para atendimento, problema que ainda continua, inclusive com a suspensão das atividades odontológicas, sem, entretanto, impedir que os pagamentos à Cruz Vermelha sejam feitos mensalmente, como se todos os contratos através dela estivessem trabalhando normamente.

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