Laqueadura de trompas é moeda forte no mercado de votos da Baixada

Doméstica de Belford Roxo já conseguiu a sua. São 16 votos na família

A doméstica M.A.S. tem 31 anos e três filhos, um menino de oito e as gêmeas de cinco. Mora com as crianças e o marido, um carroceiro de 32, numa rua insalubre de um dos bairros mais pobres de Belford Roxo, um grande mercado de compra e venda de votos na Baixada Fluminense, região pobre do estado do Rio de Janeiro. Contando com os irmãos, pais, sogros e cunhados, são 16 votos na família e esses já têm dono: um candidato a deputado estadual que, em troca, vai garantir a ela uma cirurgia de laqueadura de trompas, procedimento que já está marcado para agosto.”Uma amiga me aconselhou a procurar o `deputado´ ele vai me `ligar´ para eu não ter mais filhos”, conta. “Ligar”, na linguagem popular, é fazer uma cirurgia para a esterilização voluntária definitiva, na qual as trompas da mulher são amarradas ou cortadas.

O caso de M.A.S é um dos milhares verificados na região e o esquema que começa pela problemática cidade de Belford Roxo, passa por Nova Iguaçu, chega a Japeri e se estende até Paracambi. Esse método de trabalho é uma senhora fonte de votos e a gratidão das eleitoras parece eterna. “Consegui ligar as trompas em 2006 e desde essa época voto no doutor que me operou. Ele foi muito bom para mim e não posso esquecer disso”, externa uma moradora de Engenheiro Pedreira, no município de Japeri, onde esse esquema já elegeu vereador, transferiu muito voto para deputado e não deverá ser muito diferente no pleito deste ano.

“É um crime perante a Justiça, mas quem vive nessas localidades mais pobres vê de outra forma. Para as mulheres que passam por essas cirurgias o político que compra voto desse jeito é um benfeitor”, diz a socióloga Mirtes Cerqueira.

Nas ruas de Engenheiro Pedreira e Japeri a propaganda eleitoral ainda está muito tímida, mas entre alguns vereadores e seus colaboradores mais diretos, os chamados “coringas” ou “lideranças” – agora transformados em cabos eleitorais de deputado ou de candidatos a tal – o leque de favores a serem feitos em troca do voto é muito grande, mesmo quadro verificado na vizinha cidade de Paracambi, onde a prática política tem a mesma pequenez da verificada nos demais municípios da região, onde uma cesta básica pode servir para “conquistar” o voto de uma família inteira.

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