Rio das Ostras faz emenda pior que o soneto

Vereadora que nunca teria trabalhado ficou na folha de pagamento pelo menos até a segunda quinzena de junho e agora aparece como demitida a pedido em abril

Além de explicar qual a mágica que fazia para atuar na Câmara de Cambuci e trabalhar no município de Rio das Ostras, a 221 quilômetros ou a três horas de viagem, a vereadora Leila Cristina Pinheiro Barcelos (PSC), vai ter de esclarecer o fato de ter figurado – segundo o Portal da Transparência de Rio das Ostras – como “em atividade” durante o mês de maio e pelo menos até o dia 29 de junho deste ano, se afirma ter pedido demissão em abril “por não dar conta”, ou seja, não conseguir estar nas duas cidades em um mesmo dia. A demissão da vereadora, a pedido, consta da Portaria 659, assinada pelo prefeito Alcebíades Sabino no dia 3 de julho, três dias após o vereador Deucimar Talon Toledo (PT) ter denunciado no plenário da Câmara de Rio das Ostras que por várias vezes procurou por Leila Cristina nas escolas e na Casa da Educação, onde ela se dizia lotada  e foi informado de que ela nunca fora vista por lá ou em salas de aula, que é o lugar onde uma professora que recebe salário como tal deveria estar. Benevolente com a vereadora e colega de partido que o ajudou na campanha para deputado estadual, o prefeito Alcebíades Sabino dos Santos foi duro na semana passada com um motorista, que em seus dias folga trabalhava na Prefeitura de Búzios: demitiu o rapaz, alegando que ele não poderia ter dois empregos.

A vereadora alega que foi contratada em outubro depois de passar por um processo seletivo simplificado e que pediu para sair em abril. Entretanto, professores da rede municipal de ensino afirmam que nunca a viram nas escolas e na Casa de Educação, onde ela estaria lotada a informação de servidores é de que Cristina também não passou por lá. “Agora, quando o Ministério Público apertar, vai parecer comprovante de frequência, folha de ponto assinada e mais um monte de coisas para tentar derrubar a denúncia de que ela recebia sem trabalhar, mas a verdade é que eu nunca a vi por aqui”, diz uma professora efetiva e que cumpre sua carga horária religiosamente.

Para alguns servidores, a contratação da vereadora é a mostra de como as coisas acontecem na administração municipal, que hoje paga salários a moradores de várias cidades, sem que alguns desses contratados ou nomeados sejam vistos trabalhando. “O Ministério Público precisa passar um pente fino na folha de pagamento e nas frequências para ver realmente quem é quem. O caso de Leila Cristina chama a atenção por ela ser vereadora, mas não é único”, afirma outra professora efetiva.

Conhecido em Rio das Ostras como Zé Pretinho, o motorista José dos Santos era lotado na Secretaria Municipal de Saúde. Trabalhava de acordo com escala e ganhava R$ 1.250 por mês. Para levar um pouco mais de dinheiro para casa arrumou um segundo emprego na Prefeitura de Búzios e lá trabalhava em seus dias de folga, com escala compatível. Sua demissão está na Portaria 692, assinada pelo prefeito na última sexta-feira. A distância entre Rio das Ostras e Búzios é de 43,7 quilômetros, bem menor que os 221 quilômetros que separam Rio das Ostras de Cambuci, onde mora a vereadora Leila Cristina. No caso do motorista o prefeito se empenhou em abrir processo administrativo para sustentar a sua demissão, mas com a vereadora foi muito diferente: sua demissão foi a pedido, segundo o governo, acontecendo três dias após a contratação dela ter sido denunciada em plenário.

 

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