Denúncia ao MPF revela suposto golpe político em Itaguaí

Wesley ficou com a cadeira de prefeito com a queda de Luciano Mota

Um dos denunciantes diz que recebeu dinheiro para prestar falso testemunho na Polícia Federal e envolver ex-prefeito em tentativa de homicídio

Um vídeo com mais de uma hora de duração, uma escritura declaratória e depoimentos prestados junto à corregedoria da Polícia Federal e ao Ministério Público Federal podem provocar uma reviravolta no caso do ex-prefeito de Itaguaí, Luciano Mota, que foi afastado por decisão judicial em março deste ano e cassado em junho pela Câmara de Vereadores, sob a acusação de prática de fraudes em licitação e outras supostas irregularidades. O mandato Mota não recupera nunca mais, mas algumas acusações contra ele, umas das muitas que sustentaram o inquérito na PF e o pedido de afastamento feito à Justiça Federal, entendem alguns advogados, poderão ser derrubadas, assim como poderá cair a reputação de heróis de algumas figuras importantes nas investigações que culminaram com a saída de Luciano da Prefeitura. As revelações falam de supostas aquisições irregulares de provas e de um falso testemunho supostamente encomendado para implicar o ex-prefeito e dois membros de sua segurança pessoal.

As revelações foram feitas por Jean Carlos Gomes, que havia participado de uma série de manifestos contra o então prefeito. Ele foi alvejado a tiros na periferia da cidade por dois homens que o interceptaram nas proximidades da casa onde morava e a tentativa de homicídio foi atribuída aos policiais militares Márcio Soares de Oliveira e Silvio Siqueira Silva, que trabalhavam como segurança de Luciano.  De acordo com Jean Carlos e outro envolvido nas denúncias, o agente penitenciário Alexandre Marques, os tiros disparados foram usados para incriminar Mota, fazendo pesar ainda mais as acusações contra o então prefeito, para que, se as provas obtidas não fossem suficientes para o afastamento, o enquadrasse na tentativa de assassinato. Jean Carlos, que entregou o número de sua conta bancária para que fossem comprovados repasses semanais de dinheiro para ele como pagamento pelo o que ele mesmo classificou de “falso testemunho”, disse que os mentores seriam membros do grupo que hoje está no poder e que o depoimento no qual ele apontou os seguranças como autor dos disparos teria sido influenciado pelo policial federal Alexandre Aranha – que participou das investigações do suposto esquema de corrupção que a PF diz ter desmontado em Itaguaí e que teria causado prejuízo de mais de R$ 30 milhões ao município – e hoje tem dois irmãos no secretariado do novo governo. Jean afirmou que recebeu um papel  ‘pronto”  para assinar.

Jean foi levado ao MPF e à Corregedoria da Polícia Federal pelo advogado Hélio Carvalho e confirmou as declarações feitas no vídeo que desde o último dia 19 está sendo veiculado nas redes sociais. Em suas declarações ele também fala no envolvimento de vereadores e diz que sabe que errou, mas quer reparar o erro e responder por ele na Justiça. Segundo Jean, o grupo fazia depósitos semanais de R$ 500 e R$ 1 mil em uma conta em seu nome, aberta numa agência do Bradesco e que o dinheiro era para que ele se mantivesse longe de Itaguaí até o dia prestar depoimento em juízo, onde, afirma, teria de confirmar que fora baleado pelos dois seguranças a mando do então prefeito. Em suas declarações Jean fez questão de defender a atuação do delegado Hylton Coelho, responsável pelas investigações, que, segundo ele, teria sido enganado no recolhimento de algumas provas.

Está não é a primeira vez que o agente federal é citado de forma contraditória nesse caso. Em abril foi revelado que a Ferrari apreendida na casa do ex-prefeito foi levada para uma pousada de propriedade de uma irmã dele, o que, segundo disse a época o desembargador federal Paulo do Espírito Santo, que determinou o afastamento de Luciano, o simples fato de o veículo não ter sido levado para a delegacia de polícia, “já seria suficiente para arranhar a regularidade da diligência” e que o fato de o carro ter sido encontrado na pousada da irmã de Aranha “indicaria uma irregularidade ainda maior no procedimento”.  Também na época o policial disse que qualquer insinuação sobre sua atuação profissional “é equivocada e uma tentativa covarde de desviar o foco da investigação contra Luciano Mota”.

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