Investigações revelam ainda que instituição comandada por aliados e pela esposa do parlamentar recebeu repasses que somam mais de R$ 27 milhões do estado
Detido numa unidade do sistema prisional do Rio de Janeiro, o deputado Edson Albertassi – membro de várias comissões na Assembleia Legislativa e “coringa” do ex-governador Sergio Cabral Filho e do atual, Luiz Fernando Pezão para qualquer emergência na Casa – tinha grande utilidade também para as empresas de ônibus e sua tarefa era, segundo apurou o Ministério Público Federal, defender os interesses do setor, recebendo para isto R$60 mil por mês, “mesada” paga pela Fetranspor, através do empresário Marcelo Traça. O esquema foi revelado ao MPF pelo próprio Traça em delação premiada. Diácono da Assembleia de Deus e dono de três emissoras de rádio que transmitem programação evangélica, Albertassi teria se beneficiado politicamente com repasses de recursos do governo estadual a uma entidade filantrópica controlada por sua esposa e aliados seus, um montante de mais de R$27 milhões.
Eleito em 2014 para o sexto mandato, Albertassi chegou à Alerj em fevereiro de 1999 e desde então registrou uma considerável evolução patrimonial, segundo registram as investigações. No relatório do MPF os procuradores encarregados do inquérito que apura o esquema de corrupção envolvendo grandes empresários e políticos no Rio de Janeiro, o deputado é apontado como uma das lideranças que integram a organização criminosa montada para assegurar os interesses de empreiteiras e empresas do setor de transporte de passageiros em troca de propinas mensais. “Trata-se de mais um agente político que recebe propina da Fetranspor, para defender os interesses dos empresários do setor de ônibus do Rio de Janeiro, no âmbito do Legislativo estadual. Mais exatamente, o deputado Edson Albertassi, segundo o colaborador (Marcelo Traça), era remunerado para dificultar, na Alerj, a tramitação de projetos populistas apresentados, que trariam prejuízos para o setor de transporte”, diz um trecho do documento.
Marcelo Traça contou também que mantinha uma relação de amizade com Albertassi, anterior ao seu ingresso na política. “Em razão disso, em 2012, o deputado pediu ao colaborador para que o apresentasse a José Carlos Reis Lavouras, que fazia contatos políticos pela Fetranspor, da qual era presidente. Depois de um encontro entre eles, presenciado pelo colaborador, Lavouras acertou um pagamento de 60 mil reais por mês para Albertassi que deveria ser operacionalizado por Traça”, completa outro trecho do relatório.
Nas investigações surgiu ainda o nome da esposa do deputado, Alice Brizola Albertassi, que aparece como sócia das emissoras de rádio, que também recebiam dinheiro da Fetranspor a título de pagamento por inserções publicitárias na programação. Alice, revela o relatório, foi presidente da Associação Nova Aliança, uma entidade que recebeu do governo estadual repasses no total de R$ 27.743.491,11, sendo R$ 10.574.745,28 no período em que a instituição era presidida por ela.
Segundo foi apurado pelo MPF, de uma conta bancária da associação foi sacada, em espécie, a soma de de R$1.058.980,00, o que se deu em duas retiradas. No dia 28 de outubro de 2015 Adamastor Pereira Barros, presidente da associação, retirou R$340.980,00 e no dia 3 de novembro do ano foi sacado o total de R$718 mil, operação também feita por Adamastor, que é funcionário da Câmara de Vereadores de Miguel Pereira e tesoureiro do PMDB daquela cidade.