A natureza íntima das coisas, aquilo que faz de uma coisa o que ela realmente é, na língua portuguesa, chamamos essência e isso pode ser aplicado a tudo, inclusive à conduta humana. O comportamento de uma pessoa mostra o que ela é em sua essência. Se sua índole a leva pela contramão é porque assim a sua natureza íntima a conduz e a conduzirá sempre, pois é uma questão de caráter e esse é moldado de acordo com o que trazemos dentro de nós, a nossa essência. E aí, cara, aonde você quer chegar com isso? Talvez alguém pergunte. Daqui respondo: Calma, já estamos chegando lá…
Veiculada no domingo passado, a matéria “Lá onde mora o perigo” – reportando a situação de ameaça em que vivem moradores do entorno da empresa Essencis Soluções Ambientais, em Magé – deu muito o que falar. Comprando a briga dos que sofrem com o cheiro forte de gás e a fumaça negra que, de vez em quando, toma o ar nos bairros Parque Boneville, Vila Inca, Barão de Iriri I e II, comprei uma maior com muita gente que parece ter motivos para defender a poluição que vem causando doenças respiratórias em vizinhos dessa empresa, mas, até aí tudo bem. Triste é saber que um certo “representante do povo”, um membro da “egrégia” e “colenda” Câmara Municipal, ficou muito irritado comigo e decidiu até propor uma moção de repúdio a mim, por eu estar “atacando uma empresa que”, segundo ele, “pensa, sobretudo, no bem de Magé”.
Isso me fez parar para pensar um pouco sobre a conduta desse “representante do povo” e então concluo que se um agente público se põe a defender aquilo que o povo aponta como nocivo à sua existência, não pode estar sendo correto com o seu representado. Entendo que se ele assim se comporta, é por conta de sua essência, que certamente lhe impedirá de medir as consequências de seus próprios atos.
A postura desse “representante do povo” nos remete a um passado não muito distante, quando a questão ambiental era observada por olhos convenientemente míopes, a um tempo em que quando se tocava o dedo na ferida vinha sempre alguém com um curativo caro e preciso para estancar o sangramento, pois a tal da promiscuidade, em qualquer relação, principalmente entre agentes públicos e empresas pouco conscientes, é também fruto da essência, resultado daquilo que o agente trás dentro de si. O que esse nobre edil vai fazer em relação a mim não me preocupa em nada. Se ele é contra o que eu reportei, é melhor que a moção seja mesmo de repúdio, pois seria muito ruim se fosse de aplauso.
Mais que falar de essência, de índole ou da própria Essencis, o que quero dizer é que algumas empresas e alguns agentes públicos gostariam mesmo é que hoje pudesse ser como nesse passado não muito distante, quando os acordos (qualquer deles) eram francamente possíveis porque os donos do pedaço ignoravam o fato de a cidade não poder viver sem impostos e as contrapartidas necessárias. Os tempos, minha gente, mudaram e só esses ainda não perceberam.
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