Ao menos um grupo de seres vivos parece sofrer pouco dano diante das agressões à natureza: os nematoides, animais invertebrados mais conhecidos como “vermes”, que vivem em quase todos os lugares do planeta. A conclusão é de um estudo feito pelo Grupo de Pesquisa em Nematologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e publicado em outubro, em dois artigos, no periódico científico The Journalof Nematology. Nos artigos, os pesquisadores revelaram a ecologia de nematoides que vivem em bromélias do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ).
– Nós nos perguntamos se a comunidade de nematoides vivendo dentro das bromélias seria diferente entre áreas nativas bem preservadas e áreas que foram desmatadas, perturbadas, com muita visitação de humanos etc. Ou seja, nos perguntamos se esta comunidade de nematoides seria um bom bioindicador de distúrbios causados por seres humanos (distúrbios antrópicos). Após muito trabalho, chegamos à conclusão que não; a comunidade de nematoides parece estar alheia às perturbações humanas, e portanto não serve como bioindicador na restinga – explica o professor Ricardo Moreira de Souza, que assina os artigos ao lado de Alexandre M. Almeida.
Conhecidas apenas por abrigar larvas de mosquitos, as bromélias abrigam uma grande diversidade de nematoides e outros invertebrados. Além de investigar o possível uso dos nematoides como bioindicadores de distúrbios antropogênicos no PNRJ, a pesquisa revelou os fatores climáticos e micro-ambientais que regulam a vida dos nematoides que vivem nas bromélias.
Segundo Ricardo, através da pesquisa foi possível identificar que há inúmeros nematoides vivendo dentro das bromélias formadoras de tanque, as quais são extremamente comuns e importantes na Mata Atlântica. Além disso, a pesquisa revelou também quais os tipos de nematoides vivem nas bromélias.
– Revelamos o papel das condições climáticas (temperatura e pluviosidade) e das condições físico-químicas da água dentro da bromélia. Em outras palavras, nós revelamos como a população dos nematoides oscila ao longo das estações do ano, como responde ao calor do verão, à falta de chuvas, ao pH da água, entre outros – disse.
Destacando que o Journal of Nematology é o periódico mais conceituado mundialmente na área de Nematologia, o pesquisador ressaltou a importância da publicação neste periódico.
– Artigos científicos são de extrema importância para que os resultados das pesquisas tenham visibilidade mundial. Desta forma, a publicação dos resultados neste periódico garante o melhor retorno possível aos reais investidos na pesquisa e na manutenção da UENF afirmou.
Embora os nematoides da pesquisa sejam microscópicos, a espécie possui tamanhos variados. Muitos deles são parasitas de animais, insetos e também de plantas, sendo comuns em filhotes de cães e gatos. Em humanos, os mais comuns são a lombriga e o “bicho-geográfico”.