Haveria mais que sujeira no lixo? Colaboração de empresário do setor com o MP em esquema de corrupção na Prefeitura do Rio estaria causando insônia em políticos da Baixada Fluminense e do interior

Elizeu Pires

Há tempos que o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro vem alertando os gestores públicos para a necessidade de dar mais transparência aos contratos firmados para prestação dos serviços de coleta de lixo e varrição. Mais que isso, o TCE-RJ tem fechando o cerco aos editais esquisitos que acabam barrados na Corte de Contas, se convertendo naquilo que muitos nas administrações públicas queriam: motivo para fazer contratos emergenciais, inicialmente com validade de três meses, mas estendidos por anos com termos aditivos nada transparentes, firmados mais para garantir que os serviços continuem sendo prestados sem licitação, que pelo real interesse público.

Agora, um dos beneficiados anos a fio com o que Tribunal chama de “emergência fabricada”, o empresário João Alberto Felippo Barreto, o Joãozinho da Locanty, convertido em colaborador do Ministério Público, poderia contribuir para moralizar a relação empresas de lixo-poder público, se resolvesse contar o que saberia sobre tais contratações. O primeiro passo foi dado por ele ao assumir para o MP o uso de laranjas em quatro empresas envolvidas no esquema de corrupção montado na Prefeitura do Rio, na gestão do prefeito Marcelo Crivella, que acabou preso.

Joãozinho é um dos 26 denunciados à Justiça pelo MP em ação na qual figura ainda Sabrina Gonçalves Alexandre Van Bavel, apontada como “dona” de uma das firmas das quais o proprietário da Locanty confessou ser o verdadeiro dono. Joãozinho assumiu a responsabilidade depois da primeira fase da Operação Hades, realizada no dia 10 de março de 2020.

Segundo denúncia apresentada à Justiça, Joãozinho peticionou “confessando ser o proprietário de fato” da empresa Randy Assessoria – registrada em nome de Sabrina – e que “usava o mesmo estratagema empregado junto às empresas Laquix, Claufran e Ambiental Service para continuar operando de forma clandestina”, depois que a Locanty, que atuou em municípios da Baixada Fluminense e no interior do estado, deixou de operar.

Depois que a Locanty foi desativada, algumas prefeituras passaram a contratar a Própria Ambiental, que mudou de nome para Rio Zin, e agora contratam a Atitude Assessoria Ambiental, controlada por Pedro Jorge Duarte Barreto, sobrinho de João. Esses três nomes empresariais não são citados nas investigações que tiraram o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus da Prefeitura do Rio dias antes do fim do mandato, e também não há registros de que Joãozinho as tenha mencionado em algum relato.

Segundo foi apurado pelo Ministério Público, Joãozinho usava a Randy Assessoria para fazer os pagamentos de propina a Rafael Alves, que seria o operador do então prefeito Marcelo Crivella. Os pagamentos, pelo que consta na denúncia do MP, eram feitos para que a Laquix e a Claufran recebessem as furas em dia, sendo Rafael o responsável por garantir a agilidade na Prefeitura do Rio, por conta da influência que teria no governo.

*O espaço está aberto para manifestação dos citados na matéria.

Envie seu comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.