Preço do voto na Baixada variou de acordo com a cara do eleitor

De acordo com as denúncias, houve quem pagasse R$ 30 em Magé, R$ 50 em Guapimirim, R$ 80 em Belford Roxo, R$ 100 em Japeri e quatro dos compradores denunciados foram declarados eleitos pela região

No blablabá das campanhas eleitorais aparece sempre alguém com o discurso clichê, o lugar comum do “voto não tem preço, tem consequências”, mas, infelizmente, em pleno século 21, contata-se que o sufrágio depositado nas urnas tem preço sim, é muito barato e as consequências para quem compra, agencia ou vende, apesar das promessas de punição feitas pela Justiça, tem sido mínimas até agora. No último domingo foram feitas várias prisões na Baixada Fluminense e procedimentos investigativos estão sendo abertos pelo Ministério Público. No município de Magé, por exemplo, um agenciador que seria ligado a um deputado estadual eleito, foi detido e conduzido à Polícia Federal. Em Guapimirim aconteceu a mesma coisa com um agenciador que estaria atuando para o mesmo candidato. A prática, pelo que já foi levantado, era a mesma. A diferença estava nos valores oferecidos aos eleitores: R$ 30 em Suruí e R$ 50 em Guapimirim, preços bem inferiores ao que teriam sido praticados em Duque de Caxias, Belford Roxo e Japeri.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para garantir a votação no primeiro turno deste ano foi gasto R$ 3,70 por cada voto. Multiplicando esse valor pelos mais de 142 milhões de eleitores aptos a votar no Brasil no pleito de 2014, constata-se que o investimento é muito pesado, mas uma eleição envolve quantias ainda muito maiores e não é só com os custos das campanhas. Estima-se que somente nos municípios da Baixada Fluminense o criminoso mercado da compra e venda de votos tenha movimentado pelo menos R$ 20 milhões, o suficiente para “arrematar” 400 mil votos, considerando o preço médio e R$ 50 por eleitor, mas o Ministério Público Eleitoral tem informações de que em alguns bairros de Japeri, município mais pobre da Região, houve quem inflacionasse o mercado, chegando a pagar até R$ 100, uma vez que a procura foi maior que a oferta. O que teria pago mais acabou levando a melhor.

“O curioso é que fala-se em corrupção, aponta-se o dedo e acusa o político, mas não se fala nada sobre quem vende. A compra de votos em Japeri começou quinze dias antes e acabou inflacionada das últimas 24 horas. Muitos dos que já tinham vendido por R$ 50 resolveram entregar a ‘mercadoria’ a outro pelo dobro”, informou uma fonte local.

No município de Belford Roxo, segundo as informações, o voto custou entre R$ 50 e R$ 80, mesmos valores que teriam sido pagos em Parada Angélica, Santa Lúcia, Imbariê, Parque Paulista e Saracuruna, no município de Duque de Caxias. “Na última semana da campanha do primeiro turno recebemos muitas denúncias de compra de votos, apreendemos relações de eleitores e cópias de títulos de eleitores. No dia da votação também foram feitas apreensões. A fiscalização fez a sua parte. Agora é com o Ministério Público e com a Justiça”, afirmou ontem o chefe da fiscalização do TRE em um município da região.

Comentários:

  1. Neste caso, não podemos nos enganar e depositar a maior parcela deste crime na população. O maior culpado e o fomentador deste crime é o político corrupto.

      1. Prezado Waldir, eu não disse que quem vende o voto não é corrupto e não está cometendo um crime. Eu só disse é que este esquema só existe por causa dos políticos.

        Me responda o seguinte, fosse você um pai de família analfabeto, desempregado, doente e vivendo em um barraco em área de risco e olhasse para trás e visse seus filhos passando fome, o que você faria com o seu voto?

        Repito, o maior culpado e o fomentador deste crime é o político corrupto.

  2. É muito fácil ficar falando em questão social e inocentar o eleitor que vende o voto. Os problemas sociais e outros tantos só multiplicarão se o eleitor ficar nessa de vender o voto.

    1. Matias, não querendo inocentar a A ou B, lhe digo que enquanto a Lei Eleitoral mantiver o voto obrigatório, permitir o financiamento de campanhas e o famigerado quociente eleitoral, não obrigar o candidato a cumprir todo o mandato para o qual ele foi eleito e também não obrigar o eleito a cumprir as promessas de campanha, os problemas sociais continuarão a se multiplicar.

      O eleitor não é o maior culpado nesta história.

  3. Quem vende o voto tem mais é que ficar sem saúde, educação e saneamento. Quem votou em troca de uma merreca não tem direito de reclamar do seu eleito.

  4. Tanto o político como o eleitor são frutos da mesma árvore, a sociedade. Se não apertar também o eleitor isso nunca vai mudar. Miserável ou não, quando ele aceita um trocado para votar, está se comportando igual ao político.

    1. Prezada Janete, sugiro-lhe visitar os bairros Partido em Suruí, Morro do Sertão em Santo Aleixo e Vila Liberdade e Mundo Novo em Magé. Converse com os moradores destes locais e talvez você passe a pensar diferente sobre quem é o verdadeiro vilão desta história.

      Político não faz parte da mesma árvore do eleitor.

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