● Elizeu Pires
“Eu, no lugar de um fiscal não deixaria um caminhão sair se estivesse ruim”. A frase é do motorista Deazir Cosme Teixeira dos Santos, de 49 anos, que perdeu um filho no dia 12 de junho, quando fazia a coleta de lixo no bairro Wona, em Belford Roxo. O funcionário da empresa Limppar – que presta serviço à Secretaria Municipal de Serviços Públicos –, usou suas redes sociais para contar o drama que está vivendo após a morte do filho Hariel Miguel, de 23 anos.
O rapaz estava em seu primeiro dia na empresa e começava a realizar o sonho de trabalhar ao lado do pai. “Infelizmente, estava em um caminhão com freio de mão comprometido e com embreagem ruim, tanto que ele só subia de ré, porque de frente era perigoso”, afirma Santos, contando como foi o acidente antes de parar na piscina de uma casa: “Eu joguei o caminhão para o lado, tirando de uma criança que estava na calçada. Tirei de uma casa que eu ia atravessar e matar um montão de gente. Joguei para o lado direito, pensando em salvar a minha vida e a dos meus coletores, joguei num terreno, mas por fatalidade, tinha uma piscina. Foi ali que meu filho morreu, por traumatismo craniano.”
Nas redes sociais ele divulgou dois vídeos. No primeiro diz que está sofrendo com fortes dores na coluna, está sem movimento em uma das mãos, o que o impede de voltar a trabalhar, e pede auxílio financeiro por PIX para a realização de uma ressonância magnética. No segundo vídeo, chamando o filho de “meu príncipe”, Deazir diz que Miguel trocou um emprego de quatro anos porque o patrão não pagava seus direitos, para ser um dos coletores da equipe do pai.
“Perdi meu amor, perdi minha vida. Não tenho mais alegria”, afirmou, para, em seguida dizer que pediu ajuda, mas ninguém ajudou, talvez, cita, por pensarem tratar-se de alguém que só estava querendo dinheiro, emendando com uma revelação sobre a empresa: “Na hora a gente pensa que a empresa não ia me ajudar, mas a empresa a todo momento custeou tudo, todos os remédios”.
Silêncio na Prefeitura – No dia do acidente, em uma fria manifestação a Secretaria de Serviços Públicos anunciou que, “dentro da forma da lei”, iria cobrar da empresa responsável pelo serviço de coleta de lixo, que assumisse todas as responsabilidades pelo acidente que matou o filho do motorista. A empresa, segundo informa sua diretoria, está fazendo sua parte, mas, pelo que consta, a Prefeitura até agora, passados 20 dias do fato, não teria feito nada para ajudar.
Conforme já fora revelado, a empresa, que tinha sido substituída pela Prefeitura, voltou a aperar a coleta de lixo em Belford Roxo por causa de irregularidades apontadas no contrato, por força de uma decisão do Tribunal de Justiça, o que não impede que a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, muito pelo controle, fiscalize a prestação do serviço.
A decisão da Justiça foi tomada depois que a Prefeitura, com base em processo que tramita do Tribunal de Contas do Estado apontou suposto prejuízo de mais de R$ 40 milhões aos cofres da administração municipal.
*O espaço está aberto para manifestação dos citados na matéria
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