
“Tudo muda. De novo começar podes, com o último alento. O que acontece, porém, fica acontecido: e a água que pões no vinho, não podes mais separar. Porém, tudo muda: com o último alento podes de novo começar.”
As palavras do dramaturgo, poeta e encenador alemão Eugen Berthold Friedrich Brecht nos diz diretamente que sempre há tempo para recomeçar. É fato que quando misturamos água ao vinho estragamos os dois, pois ambos ficam inservíveis. Pois é essa fusão infame que temos feito durante anos e anos, misturando água com tudo e fumaça tóxica com o ar. Separar não dá mais, mas podemos, como o último alento, deixar de fazê-la, para que possamos ter água e ar consumíveis.
Este ano o Sudeste teve de acordar, na marra, para uma grande realidade: os sistemas Cantareira e Paraíba do Sul – responsáveis pelo abastecimento de água em cidades paulistas, mineiras e fluminenses – operaram muito abaixo do nível, pois o homem andou misturando pés com mãos, desmatando indiscriminadamente e desviando nascentes, fazendo a fusão da ganância com a irresponsabilidade. O abastecimento ficou comprometido e rios quase morreram de sede. Dessa vez a natureza reagiu, lutou pela própria vida e já voltou a respirar, mas amanhã, como será? A resposta está em nós, contida no último alento…
Então pensemos nisso enquanto é tempo. Feliz ano novo, que deixemos de lado as fusões mortais e recomecemos uma caminhada pela vida, ainda que seja uma espécie de último alento. Fiquem com Deus e eu volto sexta-feira às oito em ponto se o Grande Pai assim me permitir.