
“Numa ditadura não daria para fazer uma passeata pela democracia. Na democracia, você pode fazer uma passeata pedindo a ditadura”. A colocação simples e direta do filósofo e escritor paranaense Mário Sergio Cortella diz mais do que muitos de nós conseguimos entender e seria ótimo se os aprendizes de ditadores que povoam as Forças Armadas, o Ministério Público e o Poder Judiciário parassem um pouquinho para refletir sobre o assunto. Recentemente um militar de ‘bigode grosso’, no alto de sua ignorância sobre Legalidade e Constitucionalidade, saiu-se com essa: “Intervenção militar constitucional!” Perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. Isso não existe na Carta Magna. Quem sobreviveu o longo e tenebroso período da ditadura sabe quão nefastos sãos os militares quando no comando de uma nação. Não estou falando em relação à censura, à proibição da livre manifestação, à tortura. A coisa é muito maior. Falo de inflação de 80% ao mês, de desabastecimento, de estradas que começam não sei onde e chegam a lugar nenhum. Falo também de corrupção, mesmo sabendo que vai aparecer um monte alegando que no tempo dos militares não havia escândalo e que ninguém ouvia falar ou lia uma linha sequer sobre roubalheira. Claro que não. Era proibido noticiar…
Quando vejo grupos orquestrados por generais de pijama pedindo intervenção militar fico pensando como alguém pode chegar a tal ponto. Gente, com os generais não há direito a protesto! Muitos deles odeiam a liberdade de expressão e se pudessem acabariam de vez com esse tal Estado Democrático de Direito, coisa que – no entender deles – foi inventada por comunistas, pois assim classificam todo aquele que ouse gritar contra a chibata e o pé na porta. Bom, talvez alguns me taxem de comunista só porque teço essas linhas. Então vou logo dizendo: Sou de direita e muito me orgulho disso, mas não sou extremista. Defendo o rigor da lei, mas com o devido processo legal, pois sem isso não há justiça.
Desprezo os radicais da esquerda e os fundamentalistas da extrema direita. Sou legalista, prezo pela Constituição e por isso mesmo enfatizo que a intervenção que está lá nos artigos 34 e 35 não tem nada a ver com tomada do poder pelos militares, pois isso não existe à luz da lei. Não tem essa coisa de “intervenção militar constitucional”. O fato é que as Forças Armadas têm um grande papel a cumprir com a nação, mas não estará fazendo isso se metendo em política e com o pensamento torto de que é preciso tomar o Brasil para endireitá-lo. Fizeram isso uma vez e se mostraram por demais incompetentes, mergulhando o pais em 20 anos de escuridão.
Querem ajudar? Ótimo! Comecem fechando de verdade o cerco nas fronteiras, pois é por elas que entram as drogas e as armas que fazem dos traficantes o poder paralelo que afronta a sociedade e as autoridades em seu todo. Façam o dever de casa antes de quererem dar uma de donos da verdade, de senhores da honra e da honestidade, pois a coisa não é bem assim. Leiam a Constituição com mais atenção e vêem se conseguem entender o que ela deixa bem claro ao estabelecer que a União pode intervir nos estados, municípios e no Distrito Federal, mas para manter a integridade nacional e a ordem pública.
Quem conhece o jeito dos militares governar sabe que eles são péssimos quando se assanham a fazer política e se tornam piores ainda ao se intrometerem na economia, mas podem sim almejar o governo um dia. Eu até os incentivo a isso, pois acho que todos temos direito de sonhar em presidir a República Federativa do Brasil e que devemos trabalhar para isso se nos sentimos preparados para tal. Só que tomar o poder na marra é coisa de troglodita, é golpe dos mais baixos. É pisar naquilo que temos de mais sagrado, a Constituição.
Senhores, quem é bom e se sente realmente pronto o faz dentro da legitimidade. Querem governar, generais? Candidatem-se, submetam seus nomes às urnas. Se acham mesmo que são a reserva moral e os únicos capazes de salvar o Brasil, tentem fazê-lo pelos caminhos da democracia, que de tão boa permite que até um militar, por mais linha dura que seja, dispute uma eleição.