Elizeu Pires

Os extremistas jamais vão falar sobre isso, mas no período da ditadura militar, o cidadão que saísse às ruas sem levar no bolso a carteira de trabalho assinada era detido e autuado por vadiagem. A inflação chegava a 80% ao mês, faltavam alimentos nas prateleiras dos supermercados e havia racionamento de gasolina.
Criticar o governo? Nem pensar! Isso era crime grave pois – assim como os jornais não podiam noticiar escândalos, muito menos denunciar a truculência e os torturadores que povoavam os porões dos quartéis – as manifestações públicas eram proibidas.
Os militares controlavam tudo com mão de ferro. Omissos, os integrantes do Ministério Público e do Poder Judiciário não davam um pio, pois se borravam de medo dos generais. Era assim nos tempos do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, dos calabouços, fuzis e das baionetas…
Creio que nada disso importa à militância que aplaude os Bolsonaros da vida e defende uma intervenção militar. Ignoram que se os militares estivessem no poder, hoje eles não saberiam nem o que é rede social, pois numa ditadura é proibido até pensar, quando mais expressar opinião contrária ao regime.
Quem se lembra daquela propaganda ufanista que soava mais como ameaça do que outra coisa? O slogan ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’ era estampado em todos os lugares, até nas escolas. Era o mesmo que dizer: “Não concorda com o regime? Então caia fora”.
Leio uma matéria na qual um general de pijama faz ameaça: diz que se os ministros do Supremo Tribunal Federal deixarem o ex-presidente livre para disputar as eleições e ele sair vitorioso nas urnas haverá um banho de sangue. Veja só quanta sandice. O cara acha que está com essa bola toda e que sua vontade pessoal tem de prevalecer sobre as instituições. Pensa que estamos vivendo no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, quando o grito de um homem fardado era suficiente para esvaziar uma cidade inteira.
Entendo que uma vez condenado o ex-presidente ou qualquer outra pessoa tem mesmo de ir para a cadeia. Se tiver direito a recurso que aguarde o julgamento na prisão. É assim que tem que ser, mas por decisão isenta da Justiça e não porque um general quer que seja.
Entendo ainda que não há solução fora da democracia, pois, gostem ou não os linhas-dura, a força maior está na vontade do povo quando expressada, sem pressões, na urnas. Querem mostrar força? Ótimo! Passem a cuidar melhor das fronteiras para que armas e drogas não continuem entrando no país às toneladas, nas barbas de machões que como esse general, acham que podem resolver os problemas do Brasil na bala.