O carnaval e os evangélicos

● Elizeu Pires

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Todo ano acontece a mesma coisa. Evangélicos revoltados com as manifestações nos desfiles de carnaval vão para as redes sociais a classificarem os componentes das escolas de samba como “adoradores do diabo”, se colocando como patrulheiros da vida alheia, como se tivessem direito a isso e fossem senhores da verdade.

Quem quer ouvir sermão vai a uma igreja dessas que tem Deus como propriedade privada e a Bíblia como constituição. Não fica de frente para um aparelho de TV assistindo aquilo que condena. Deveria ir a um retiro, já que na cabeça de alguns desses “santos” o simples ato de andar pelas ruas em dias de carnaval transforma uma pessoa em seguidor de satanás.

A ira aumentou no carnaval 2025 porque uma cantora de grande influência no mundo gospel participou da abertura da folia em Palmas, no estado de Tocantins. Só que isso é problema dela, que lá esteve como artista e recebeu cachê para tal. O diabo, a quem os “ungidos” responsabilizam por tudo – até pelos próprios erros –, nada tem a ver com a opção da cantora, que, aliás, pode fazer o que bem entender da vida, desde que não venha prejudicar a alguém.

Hoje (4) acaba a folia, mas o que se passou nas avenidas carnavalescas certamente continuará sendo repercutido pelos santarrões, os  que se acham no direito de apontar o dedo e taxar de “ímpio” aqueles que não seguem o que eles pregam.

Sei que esse texto vai provocar a ira desses patrulheiros, mas não dá para aceitar a imposição hipócrita dos que se acham especiais e únicos filhos de Deus.

Eu, por exemplo, nunca fui um folião e jamais serei, mas nem por isso me acho no direito de criticar quem gosta, muito menos me autoriza a apontar como satanistas os que produzem a maior festa popular do mundo.