Unidos na tragédia e na corrupção

Além das mortes e da destruição, Nova Friburgo e Teresópolis compartilham as mesmas histórias de corrupção e desvio de dinheiro destinado às obras de recuperação

● Elizeu Pires

Demeval e Jorge Mário perderam os mandatos pelos mesmos problemas e suas cidades conheceram três prefeitos em quatro anos

O mês de janeiro de 2011 jamais será esquecido pelos moradores dos municípios de Nova Friburgo e Teresópolis, na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. Além dos danos materiais, as chuvas ceifaram 905 vidas (número oficial de corpos encontrados sob escombros e lama) e 191 pessoas ainda estão desaparecidas. Se a tragédia provocou dores e sofrimentos, a má conduta de quem deveria cuidar da recuperação das áreas destruídas causou prejuízos estimados em cerca de R$ 30 milhões, dinheiro que, segundo denunciou os ministérios públicos estadual e federal, sumiu nos ralos da corrupção. Compartilhando a mesma catástrofe e a mesma roubalheira, Nova Friburgo e Teresópolis viveram ainda mais uma coincidência: tiveram três prefeitos em quatro anos e nem por isso evoluíram em alguma coisa.

Quatro meses antes da tragédia o prefeito Heródoto Bento de Melo, eleito em 2008 (aos 85 anos) para governar Nova Friburgo, se licenciou por motivos de doença. Seu lugar foi ocupado pelo então vice-prefeito, Dermeval Barboza Moreira Neto, que acabou se perdendo na montanha de dinheiro que entrou nos cofres da Prefeitura depois dos desabamentos e das mortes. Acusado pelo Ministério Público Federal de irregularidades na aplicação de R$ 10 milhões, acabou apeado do poder em novembro do ano de 2011, deixando a cadeira de prefeito para o presidente da Câmara de Vereadores, Sérgio Souza. Essa semana os dois foram condenados a ressarcirem os cofres da municipalidade por terem recebido dinheiro a mais como subsídio. Dermeval terá que devolver R$ 24.131,73 e Sérgio – que em março já havia sido notificado pelo TCE de que teria que devolver R$ 19.163,10, por causa de subvenções irregulares – R$ 4.021,96. Resta saber como Dermeval fará o ressarcimento, pois está com os bens e as contas bancárias indisponíveis por decisão judicial em ações que o condenaram por improbidade administrativa. Os problemas de Sérgio são muito pequenos diante dos inquéritos e das condenações de seu antecessor, mas as únicas coisas certas é que os dois não deixaram saudades e que o espinhoso abacaxi ficou nas mãos do prefeito Rogério Cabral.

Em setembro de 2013 a Justiça Federal condenou Dermeval por um prejuízo de mais de R$ 300 mil aos cofres públicos e a sentença pegou também o ex-secretário de Educação, Marcelo Verly Lemos, o ex-secretário de Governo, José Ricardo Lima  e os empresários Adão de Paula e Alan Cardeck Miranda de Paula. Não ficou só nisso: em julho do ano passado o Ministério Público Federal  conseguiu condená-lo mais uma vez, nessa pela comprovação de irregularidades na aplicação de R$ 10 milhões repassados pelo governo federal para a recuperação da cidade. Demerval perdeu o mandato em novembro de 2011, um mês após a cassação do prefeito de Teresópolis, Jorge Mario Sedlacek pela Câmara de Vereadores, também por irregularidade na aplicação dos recursos enviados à cidade depois das chuvas daquele janeiro fatídico. Jorge foi substituído pelo vice-prefeito Roberto Pinto, que morreu dois dias depois de ter tomado posse e o cargo caiu no colo do então presidente da Câmara, Arlei Rosa, que até hoje, apesar de ter sido reconduzido ao cargo em 2012, ainda não conseguiu arrumar a casa.

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