Depois de ignorar decisão judicial para evitar voto que o derrotaria, presidente da Câmara de Japeri foi almoçar com a prefeita

● Elizeu Pires

Depois da tumultuada sessão realizada na última sexta-feira (30) na qual foi reeleito para o comando da Casa, o presidente da Câmara Municipal de Japeri, Walter Trajano (foto), foi para um restaurante em Seropédica, onde almoçou com a prefeita Fernanda Ontiveros. O encontro está relatado na certidão do oficial de justiça que passou a manhã daquele dia tentando intimar Trajano sobre uma decisão judicial que garantia ao vereador Junior Martins participasse da eleição, o que se tivesse ocorrido teria resultado em derrota para o presidente, que não teria motivo para comemorar.

Como já foi reportado pelo elizeupires.com, para se manter no cargo durante o biênio 2023/24 Walter Trajano decidiu rasgar as regras do jogo e ignorar a decisão judicial. Por seis votos a cinco ele venceu a eleição, disputa que perderia se o vereador Junior Martins tivesse participado da sessão, que poderá ser anulada pela mesma Justiça para a qual Trajano andou ao se recusar a tomar conhecimento de uma liminar emitida para que Martins – que até o dia anterior era secretário de Assistência Social – retornasse à Casa naquele dia.

Para impedir a participação de Junior, Walter alegou que a exoneração do até então secretário não tinha sido publicada no diário oficial, ignorando que bastaria que ele protocolasse o pedido na Prefeitura para que a saída do cargo tivesse validade e Junior pudesse retomar o mandato de vereador. O que Trajano queria e conseguiu era garantir a seu favor o voto do suplente Luciano Terra, que ocupava a cadeira de Junior. A manobra era para evitar que o concorrente de Walter, Rogério Gomes Castro, mais conhecido como Rogerinho da RR, obtivesse o voto que necessitava para ganhar a presidência, mas isso poderá custar a Trajano muito mais que o cargo de presidente, resultando em perda de mandato.

Conluio – Segundo gente da própria Prefeitura, a não publicação da portaria na qual Junior Martins foi exonerado do cargo de secretário se deu para fortalecer o argumento de Trajano ao manter o suplente na cadeira que deveria estar ocupada por Martins na sessão em que a eleição dos integrantes da mesa diretora aconteceu.

Isso pegou muito mal para a prefeita nos ambientes políticos locais. Primeiro porque o pedido de exoneração foi protocolado às 16h16 do dia 29 de setembro, a tempo de a portaria ser publicada na edição digital do DO antes da sessão. Depois porque ela e o presidente da Câmara só se permitiram ser intimados depois que a eleição já tinha ocorrido e os dois foram encontrados no mesmo restaurante, o que passou a ser visto como um almoço de comemoração.

Sem argumentos – De acordo com o advogado Leonardo Mazzutti, que impetrou o mandado de segurança que resultou na liminar ignorada por Trajano, o presidente da Câmara não quis receber a intimação presencialmente, por e-mail nem por telefone. Segundo Mazzutti, vereador Rogerinho da RR levou o aparelho telefônico no qual falava com o oficial de justiça responsável por intimar Trajano, mas o presidente negou-se a atender e manteve o suplente no plenário para que o substituto votasse no lugar de Junior Martins.

Para quem entende do assunto, não existe argumento que sustente a posição tomada pelo presidente da Câmara, que agora resolveu alegar que o pedido de exoneração apresentado no dia 29 de setembro não tinha assinatura, o que não é verdade. Só que Walter Trajano não imaginava que o advogado de Júnior Martins fosse se precaver.

Prevendo os passos do presidente da Câmara, Leonardo Mazzutti incluiu todos os documentos no aplicativo Google Drive, Instagram e em outras formas de comprovar que no dia anterior a eleição e a apresentação do mandado de segurança não havia qualquer irregularidade para impedir Martins participar da eleição. “O único impedimento foi o autoritarismo do presidente Walter Trajano, que debochou de uma decisão judicial”, afirmou o advogado.

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