A vitória do “Nove Dedos”

● Demétrio Sena

Na campanha deste ano, como na daquele tristonho 2018, foram muitos os memes que recebi, referindo-se ao Lula como o nove dedos, pela sua deficiência física. Isso condiz com o comportamento lamentável de uma multidão raivosa, preconceituosa e separatista. Multidão em polvorosa constante, que segrega o negro e o gay, que maltrata a mulher e o filho, entra em festas cujos temas não a agrada, para matar. Um subpovo com ódio, preconceito religioso e fanatismo, que tem vivido para policiar os diferentes, obrigar costumes, oprimir quem não pensa da mesma forma. Tudo isso empoderado pelo grande chefe de todas as maldades.

Falei apenas do que julgo mais grave no bolsonarismo e seu chefe. Nem preciso falar de outras questões (economia, inflação, meio ambiente etc), todas relegadas ao esquecimento, em nome do destaque ao ego do ainda presidente. Mas de todas as questões, a que mais destaco, enalteço e venero com todas as minhas forças é realmente a democracia. Sempre venerei a democracia em casa, na rua, no trabalho e todos os outros meios sociais… e sempre temi os governos tiranos, alguns dos quais conheci, porque passei pelos anos finais da ditadura militar no Brasil.

Sobre todas as vitórias, estou celebrando com alegria o retorno da tranquilidade democrática. Mas também me enche de alegria, na pessoa do Lula, a vitória de todos os “nove dedos” nordestinos ou de qualquer outra região… dos operários simples, pretos e pardos que são vítimas da polícia visual… de todos os trabalhadores que já sentiam no corpo e no bolso o avanço da escravidão… de todos os membros de religiões de matriz africana… e a vitória das mulheres, da comunidade LGBTQIA+ e todos os demais excluídos, discriminados e assediados por essa multidão que se julgava o braço direito da tirania que se instalou por aqui.

Parabéns, nove dedos! Parabéns, nordestino! Parabéns, torneiro mecânico rouco! Parabéns, ex-presidiário inocentado como tantos brasileiros aos quais faltam os estereótipos exigidos até pelos que não os têm, para serem aceitos na preconceituosa sociedade brasileira! Pior ainda, na super preconceituosa subsociedade bolsonarista!

Parabéns aos brasileiros que acordaram, aos que nunca dormiram e aos que ainda podem acordar!

*Demétrio Pereira Sena é professor, poeta e escritor

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