Engenheiro que se tornou ‘lixeiro’ revoluciona a transformação de resíduos

A iniciativa já reciclou 60 mil toneladas de plástico e impactou oito mil catadores

O empreendedor social Henrique Guilherme transformou a reciclagem e a vida de oito mil catadores em vários estados brasileiros – Foto: Divulgação

Unir a indústria, academia e agentes ambientais em prol da transformação de resíduos difíceis de reciclar, transformando-os em matérias primas ou novos produtos, é a expertise do empreendedor Henrique Guilherme Brammer Jr., fundador da Broomera, um negócio de economia circular inovador por gerar valor a partir de materiais que teriam por destino final os aterros sanitários. A ideia surgiu de um inconformismo: o engenheiro ambiental nunca aceitou o fato de os plásticos não serem reaproveitados tanto quanto o papelão e as latas de alumínio. Com pesquisa e desenvolvimento, design de produtos e logística reversa, a empresa produz um ganha-ganha em toda a cadeia produtiva; auxilia, ainda, as companhias a cumprirem a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A ideia do engenheiro que se tornou lixeiro – com muito orgulho, como diz – financiou universidades e pesquisas para a criação de resinas; promoveu a inclusão social de oito mil catadores de 13 estados do Brasil, cuja renda saltou de R$ 400 para R$ 1.500 mensais; envolveu 200 cooperativas na parceria; e reciclou 60 mil toneladas de plástico. Henrique Guilherme Brammer é o vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2019.

O impacto socioambiental da Broomera é robusto, representado por mais de 100 pontos de coleta de material somente nas lojas do Grupo Pão de Açúcar; adaptação de uma fábrica em Cambé, no Paraná, que conta com um faturamento de cerca de R$ 40 milhões – que deve dobrar até o final do ano. Uma nova fábrica, em São Paulo, será aberta para transformar cápsulas de café descartadas em suportes plásticos e porta-cápsulas.

Hoje, por exemplo, os resíduos recolhidos da Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, tornam-se cones para aulas de educação física; fraldas sujas são convertidas em lixeiras e cabides; embalagens de suco em pó se tornam instrumentos musicais. Lixo que ganha vida e impacta vidas. Hoje, a empresa tem 150 funcionários e deve atingir um faturamento de R$ 100 milhões em 2020.

Com uma expansão do negócio consolidada no Brasil, Brammer expandiu a operação para países como Argentina, Chile e Colômbia por meio do CircurlarPark – metodologia que envolve cientistas (de universidades e da Broomera) e catadores de material reciclável para transformarem resíduos difíceis em materiais que voltam para a indústria. “No futuro, temos como objetivo alcançar parceiros globais e expandir nossos projetos para outros países. Todos têm problemas com o lixo e o planeta ainda adota o modelo linear como premissa. Isso precisa mudar e é possível”, afirma, acrescentando que 1 milhão de pessoas, na cidade de São Paulo, vivem da reciclagem.

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