Concurso sob suspeita em Valença

Candidatos denunciam que processo seletivo teria sido “jogo de cartas marcadas”

O que Maria pensa da vida? Qual o maior sonho de João, a maior qualidade de José e o seu maior defeito? Os três personagens são fictícios, mas a história é verdadeira. Aconteceu na cidade de Valença, no interior do estado do Rio de Janeiro, no processo seletivo simplificado da Secretaria Municipal de Saúde para contratar agentes comunitários de saúde e agentes de endemias, certame que, segundo servidores com mais de dez anos de atuação nessas áreas, teria sido “um jogo de cartas marcadas”. De acordo alguns deles, as regras do edital não foram respeitadas e candidatos que teriam sido reprovados na prova objetiva teriam sido chamados em separado para “correção de prova”. Os descontentes afirmam: “o concurso foi uma grande armação”.

Segundo Maria Celina de Oliveira, representante do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência Social (Sindsprev), as regras do concurso começaram a ser quebradas logo na formação das comissões responsáveis pela seleção, pois foram nomeadas pessoas ligadas ao governo e pelo menos uma delas entrevistou parentes que acabaram aprovados na etapa eliminatória. Para constituir a comissão coordenadora o prefeito Álvaro Cabral escolheu Júlio Cesar de Morais Abreu, Jussara dos Santos Ribeiro de Abreu e Rita de Cássia Medeiros, enquanto que a comissão setorial foi formada por Marcio Fabiano dos Santos Batista, Lucilei da Silva e Luciana de Almeida Reis. Para a comissão de recursos o prefeito nomeou Raquel Brinco de Souza, Bianca da Silva Antonio e Luciana Aparecida dos Santos Vargas.

De acordo com o item 14.2 do edital do concurso a etapa eliminatória, da qual só poderiam participar os que tivessem acertado mais de 50% das questões da prova objetiva, diz que “a entrevista terá como foco averiguar conhecimentos inerentes à área de atuação para qual o candidato inscreveu-se”, entretanto, afirmam os concorrentes, não foi isso que aconteceu. “Eu, por exemplo, fiz prova para agente de endemias e na entrevista nada foi perguntado sobre a área de atuação. Perguntaram sobre o meu maior sonho, o que penso da vida, qual meu maior defeito e a minha maior qualidade. Sobre o trabalho mesmo não perguntaram nada. Ai, eu que fui um dos primeiros colocados na prova objetiva fui reprovado na entrevista feita na base de perguntas pessoais”, afirmou um concorrente.

Apontado como “braço direito” do secretário de Saúde Sergio Gomes da Silva, Júlio Cesar de Morais Abreu não deveria nem ter participado da coordenação do processo seletivo, mas não só participou como atuou na etapa eliminatória, da qual saíram muito bem classificados um irmão dele, Leandro de Morais Abreu e mais dois parentes. “Essa etapa foi uma verdadeira vergonha e esse concurso só serviu para desmoralizar ainda mais esse governo”, disse uma candidata.

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