Vinte e sete anos depois

A ação do Exercito provocou comoção nacional, mas no dia 2 de maio de 1989 um ato de violência voltou a sacudir Volta Redonda: o Memorial 9 de Novembro, símbolo da luta dos trabalhadores, inaugurado um dia antes, foi destruído por uma bomba

O Ministério Público Federal decide apurar violação de direitos humanos na invasão da CSN pelo Exército na greve de 1988 

Quando se pensava que a democracia já fosse realidade,  no dia 9 de julho de 1988, no velho estilo de truculência adotado nos anos de chumbo da ditadura militar, uma tropa do Exército invadiu a Companhia Siderúrgica Nacional para conter o movimento grevista iniciado pelos metalúrgicos e a coisa ficou feia para os trabalhadores. Nesse dia, armados apenas com o direito de reivindicar, os operários foram tratados como inimigos da pátria e três deles foram mortos. Agora, passados 27 anos, o núcleo do Ministério Público Federal (MPF) em Volta Redonda decidiu instaurar inquérito civil público para apurar a responsabilidade do estado Brasileiro pelas mortes de Carlos Augusto Barros, Walmir de Freitas Monteiro e Willian Fernandes Leite.

Com base em relatório apresentado pela Comissão Municipal da Verdade Dom Waldyr Calheiros, que apontou a violação de direitos humanos na invasão, o MPF passou a investigar os fatos. A greve, deflagrada pelo Sindicato dos Metalúrgicos para reivindicar perdas salariais geradas pelo Plano Bresser (um plano econômico lançado em 1987 pelo governo do presidente José Sarney, que tinha como ministro da Fazenda o economista Luiz Carlos Bresser Pereira) começou no dia 7 de novembro de 1988. Os trabalhadores pediam, além da recomposição salarial a implantação do turno de seis horas aprovado pela Constituição promulgada naquele ano, mas em vez de atender os operários, o governo federal determinou a invasão, o que o Exército fez com 500 homens armados de fuzis e apoiados por tanques de guerra. O documento cita que, exatamente às 21h30 do dia 9, a tropa recebeu ordem para atacar os cerca de três mil operários que estavam refugiados na acearia da CSN. De acordo com o relatório, a tropa matou Willian Fernandes com um tiro no pescoço quando ele se escondia no alto da aciaria, Walmir levou uma bala no pescoço e Carlos Augusto Barroso foi morto a pancadas, sofrendo esmagamento craniano.

O MPF vai ouvir alguns envolvidos e pretende analisar pedidos de anistia e de reparações simbólicas em favor dos trabalhadores. “É um episódio que deve ser relembrado para que a verdade seja esclarecida e a população resgate a sua identidade e a sua história”, entende o procurador da República Julio José Araujo Junior, responsável pelo inquérito. 

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