Números que envergonham

Três exames durante o pré-natal podem evitar a transmissão da doença aos bebês

Casos de sífilis dobram no estado e bebês são as grandes vítimas. Campanha de combate à forma congênita da doença vai abranger todas as cidades fluminenses

Nos últimos quatro anos o número de casos de sífilis congênita passou de 1.535 para 3.588 no estado do Rio de Janeiro, um resultado negativo extremamente vergonhoso considerando os avanços e as facilidades oferecidas no combate à doença, que é transmitida de mãe para filho durante o período de gravidez. Buscando reverter esse quadro cada vez mais preocupante nas maternidades da rede pública, a Secretaria Estadual de Saúde lançou uma campanha de luta contra a doença, com ações e metas a serem cumpridas por todos os 92 municípios. As ações visam aumentar a identificação do mal e melhorar a qualificação do pré-natal. A partir de agora as gestantes deverão fazer a testagem duas vezes ao longo da gravidez na gestação e antes do parto, incluindo nisso o tratamento para o parceiro como forma de evitar a reinfecção. De acordo com levantamento da Secretaria Estadual de Saúde, o índice de infecção registrado em 2010 foi de 7,1 casos por mil nascidos vivos, um número já elevado que dobrou em 2014, com 15,4 contaminados em mil bebês, chegando ao total de 13.013 casos de sífilis congênita em todo o estado.

Outro fator preocupante, aponta o levantamento, é quanto à faixa etária da mãe: o maior número de mães infectadas pela sífilis está entre as de 20 e 34 anos de idade, o que representa 61,4% dos casos diagnosticados entre janeiro de 2010 a agosto de 2014. “Através do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, é possível evitar que a criança adquira a doença. Infelizmente a sífilis congênita ainda é uma causa frequente de abortos e má-formação do feto”, informa o subsecretário de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe.

Dentro do Plano de Enfrentamento da Sífilis Congênita a Secretaria de Saúde vai desenvolver ações junto aos municípios para aumentar a detecção precoce da doença, ampliar as tecnologias para o diagnóstico e tratamento precoce, melhorar o acesso dos parceiros das gestantes às unidades de saúde para realização do teste e a qualificação de profissionais de saúde que atuam na atenção ao pré-natal. “Caso o resultado seja positivo, é importante que a mulher faça o tratamento adequado e o parceiro também seja avaliado, já que há risco de reinfecção. A sífilis tem tratamento e cura, por isso é importante o diagnóstico precoce”, afirma o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto.

Para detectar a doença basta um exame de sangue, mas esse, alerta a Secretaria de Saúde, tem de ser feito logo no primeiro trimestre da gravidez nas Unidades de Atenção Básica (UBS), nas redes municipais de saúde e nos serviços que realizam pré-natal pelo Sistema Único de Saúde.  A secretaria recomenda que o exame seja repetido no terceiro trimestre e, novamente, antes do parto, destacando ainda que se a mãe estiver infectada, é possível que o bebê nasça com complicações. Importante também que seus parceiros sexuais sejam diagnosticados e tratados, já que há risco de reinfecção. Por isso, todos os bebês que nascem na rede pública de saúde devem realizar o exame para identificar a doença. Em caso positivo, a criança precisa ficar 10 dias internada para receber a medicação adequada, o que muitas vezes aumenta o tempo de internação também das mães. Ainda segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a sífilis congênita pode causar má-formação do feto, nascimento prematuro, aborto e até a morte do bebê.

A sífilis, revelam os especialistas, se manifesta logo após o nascimento, mas a doença pode se manifestar até os dois anos de vida. A criança doente pode apresentar pneumonia, feridas no corpo, cegueira, dentes deformados, surdez, dificuldade de aprendizagem, retardo mental e deformidades ósseas. Nas mulheres e nos homens, os primeiros sintomas da doença são pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas (ínguas), que surgem entre 7 a 20 dias após a contaminação. Se progredir, a doença pode causar manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos. A doença pode ser transmitida por relação sexual sem preservativo com pessoa infectada, por transfusão de sangue contaminado ou da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou o parto.

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