Papai Noel fala de crise e de desamor

Papai Noel: ‘Para inúmeras crianças falta o básico que é a família, alimentação, amor, compreensão e escola e elas crescem num mundo caótico, sem ilusão. Tornam-se adultos amargos, marginalizados e encontram na prostituição e no crime a saída para seus problemas’

Mesmo velhinho Papai Noel nem pensa em aposentadoria. Tem uma agenda lotada e a fábrica de brinquedos –  que ele inspeciona pessoalmente – lhe toma quase todo o tempo. Depois, tem ainda as cartas que recebe todos os meses, sendo que este número triplica em dezembro. Apesar de se esforçar muito e contar com a colaboração de seus ajudantes, ele confessa que nem sempre consegue responder todas as cartas, mas mesmo assim sempre faz o possível para fabricar todos os brinquedos pedidos. Apesar da falta de tempo, Papai Noel concedeu uma entrevista exclusiva, resultando em material produzida pela GB Edições.

A crise financeira atrapalha também a sua fábrica de brinquedos?

Papai Noel: E como! Às vezes é muito difícil atender aos pedidos. Tudo depende do brinquedo. Muitas vezes tenho que substituir por outro. Faço tudo para não deixar as crianças sem presentes.

E o senhor fica triste com isso?

Fico sim. Porque tanto eu como os pais das crianças gostaríamos de atendê-las, mas muitas vezes a falta de dinheiro não permite isso. Daí, faço tudo para levar um presente, mesmo que não seja o pedido. Triste mesmo é quando eu não consigo fabricar nada. Às vezes isso acontece.

E nessas cartas que o senhor recebe, quais são as coisas mais pedidas?

Bom, geralmente as crianças me pedem brinquedos. Mas muitas também pedem para que eu faça com que seus pais não briguem e que dê mais atenção a elas. A violência contra as crianças, e em geral, cresce a cada dia mais. Isso me assusta muito. Houve um tempo que bastava um brinquedo para fazer uma criança feliz. Hoje percebo que precisa muito mais do que isso. Para inúmeras crianças falta o básico que é a família,  alimentação,  amor,  compreensão e escola e elas crescem num mundo caótico, sem ilusão. Tornam-se adultos amargos, marginalizados e encontram na prostituição e no crime a saída para seus problemas.

E qual é saída para melhorar essa situação, Papai Noel?

Isso é um problema político-cultural. Díficil de ser resolvido de um dia para o outro. O primeiro passo é ter vontade política para tornar as pessoas realmente cidadãs. Veja, é válido ajudar as famílias carentes, dando cestas-básicas, roupas, calçados e brinquedos e essa iniciativa cresce bastante nesta época de festas, mas e o resto do ano? Quando falta emprego para um pai, ou uma mãe, as necessidades básicas continuam pelos meses afora. Minorar a fome por uns tempos pode ajudar, mas é preciso uma ação mais efetiva no sentido de solucionar o problema do desemprego, que é um dos maiores flagelos destes tempos. Entretanto, eu incentivo as pessoas, principalmente as crianças a dividirem o que têm com aqueles que têm menos. Isso se chama solidariedade e amor ao próximo. Estes dois ingredientes são o fermento para o bolo chamado “mundo melhor” crescer.  

Como é que o senhor consegue entregar tantos presentes ao mesmo tempo na noite de Natal?

Essa é uma boa pergunta. Houve tempos em que eu contava somente com as minhas renas. Era uma correria danada. Uma verdadeira loucura. Mas agora com tanta modernidade, com Internet, Sedex e tantos serviços de entrega rápida, eu posso contar com as inúmeras lojas de brinquedos e supermercados que me auxiliam nesta tarefa. Tenhos milhares de auxiliares e por isso consigo entregar tudo.

Por que algumas crianças não o vêem na noite de Natal, apesar de ganharem os presentes?

É que eu tenho que ser muito rápido. Bem que gostaria de ficar mais um pouco nas casas, conversar com as crianças e até comer um pedacinho do peru na ceia, mas nunca tenho tempo para essas regalias.

O que é que o senhor mais gosta de ver numa casa, na noite de natal?

Gosto muito de ver a união da família. Todos juntos comemorando o nascimento de Jesus, que é o que realmente importa nesta data. Gosto de ver a paz reinando entre as pessoas. Depois, fico verdadeiramente encantado quando vejo a árvore de Natal. Pena que hoje em dia algumas famílias aboliram esta tradição. Gosto especialmente daquelas feitas com pinheiros naturais. Outra coisa que sinto falta é das pessoas cantando as músicas de Natal. Sabe, é muito bonito as pessoas se unirem em oração e cânticos, ao redor da árvore de Natal e depois compartilham juntas da ceia. Como sinto falta disso no mundo em que vivemos.

Papai Noel, tem muita gente adulta que não acredita em sua existência e acaba passando isso para os filhos. O que o senhor diz sobre isso?

Ah, Ah, Oh, Oh!  Eu não existo, heim. Estou rindo, mas isso é triste.  É uma pena que alguns adultos estejam com o coração tão endurecido que não conseguem achar espaço para a ilusão e para a magia do Natal. Se estas pessoas soubessem o que estão perdendo e da alegria que estão privando os seus filhos, mudariam de opinião na hora. Eu existo e vou sempre existir no coração daqueles que são puros de alma e fazem do amor e da solidariedade os seus objetivos de vida.

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