Uma lei para cada classe é o que os “intocáveis” querem

“Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos.”  

A frase acima é do ex-presidente chileno Salvador Allende – deposto no golpe militar de 1973 – e poderia servir como bandeira na manifestação deste domingo se essa tivesse sido mesmo convocada para defender o Brasil dos corruptos e das injustiças. Tanto não foi que os números apurados nas cerca de 200 cidades onde os organizadores disseram ter ocorrido protestos são bem menores do que o esperado. Quinze mil pessoas na Avenida Paulista segundo a Polícia Militar ou 50 mil na visão dos mais otimistas não significam nada diante de um universo de 200 milhões de brasileiros. Eu gostaria que muitos milhões tivessem saído às ruas hoje para defender a Operação Lava-Jato, o afastamento e a condenação dos políticos comprovadamente corruptos, sem se aterem a reivindicações de classe, aliás, de uma classe muito da privilegiada. Gritar contra um instrumento legal para enquadrar o abuso de autoridade de uma casta que acha que pode fazer o que bem entende, certa de que o máximo que poderá acontecer a seus membros seria uma aposentadoria compulsória, é defender leis diferentes para proteger iguais. Além disso, na convocação para o ato deste domingo faltou dizer que o Congresso caiu em desgraça com os “intocáveis” mais porque foi criada uma comissão para identificar os supersalários pagos magistrados e a membros do MP do que por outra coisa, mas isso os doutores não querem dizer. Preferem alegar que estão tramando contra a Lava-Jato, um operação necessária, legítima, que não está e nunca esteve ameaçada. O que está acontecendo é que os “onipotentes” querem impor uma lei de execeção em pleno regime democrático, rasgando a Constituição deste país.

Em novembro do ano passado o Órgão Especial do Tribunal Regional Federal do Rio “condenou” o juiz Flávio Roberto de Souza, aquele que julgava os crimes financeiros atribuídos a Eike Batista e achou que podia levar para casa um dos carrões do empresário. É o mesmo magistrado que decidiu meter as mãos em mais de R$ 1 milhão (devolveu R$ 600 mil depois) do dinheiro apreendido com o traficante espanhol Oliver Ortiz de Zarate Martins, preso em operação da Polícia Federal em 2013.  Sabe qual foi a pena aplicada ao doutor? Aposentadoria compulsória, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.

Uma adolescente de 15 anos – com conhecimento de uma juíza do estado do Pará – foi colocada na cela masculina na delegacia de polícia de Abaetetuba. Tinha uns 20 homens lá e com ela fizeram de tudo um pouco. Sabe o que aconteceu com a doutora por tamanho abuso de autoridade? O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) resolveu proibir a juíza Clarice Maria de Andrade de atuar como magistrada por pelo menos dois anos, recebendo salário proporcional ao tempo de serviço.

Pois é, se a lei que juízes e promotores querem impedir o Congresso de aprovar já estivesse em vigor a doutora iria ter que passar uma pequena temporada na cadeia. Cadeia? Que isso, gente! Que absurdo! Magistrados e membros do Ministério Público não podem receber esse tipo de tratamento. São intocáveis, podem fazer o que bem quiser, são deuses e estão acima de todas as leis que este Congresso tenha aprovado ou venha aprovar. Punição é para gente comum como nós, inclusive você que neste domingo foi para as ruas achando que estava atendendo a um chamado para defender o Brasil de gente como Renan Calheiros e seus iguais.

 

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