Ficha suja não tira ex-prefeito do poder em Araruama

Com direitos políticos suspensos e proibido de contratar com o poder público, Chiquinho da Educação estaria dando as cartas no governo, embora devesse estar bem longe dele

Citado em pelo menos 66 processos judiciais, condenações impostas pelo Tribunal de Contas do Estado e com uma sentença que o tornou inelegível por cinco anos e o proíbe de contratar com o poder público pelo mesmo período, o ex-prefeito de Araruama, Francisco Carlos Fernandes Ribeiro, o Chiquinho da Educação (foto), é quem estaria dando as cartas no governo de sua mulher, a prefeita Lívia Belo (PDT), que disputou a eleição com o nome de Lívia de Chiquinho. Ele aparece no site do Tribunal de Justiça com 28 processos cíveis, quatro criminais e 34 na Vara de Fazenda Pública, onde são ajuizadas ações de execução fiscal. A decisão que o tornou inelegível se deu em processo por improbidade administrativa pelo uso de servidores da Secretaria de Obras na construção de uma casa em Búzios. Chiquinho pegou dez anos de inelegibilidade, mas recorreu ao TJ e a pena foi reduzida à metade, devendo prescrever em setembro deste ano se a decisão do Tribunal de Justiça não cair em Brasília, onde a ação será analisada em última instância. Porém, como há mais processos tramitando, a estimativa de alguns advogados é de que ele possa ficar inelegível até 2024.

De acordo com denúncias de servidores do município, o ex-prefeito estaria despachando diariamente em uma sala na sede da Prefeitura, com acesso controlado por câmeras para prevenir contra visitas desagradáveis, um oficial de justiça ou um repórter, por exemplo. Na Câmara de Vereadores os comentários eram de que Chiquinho seria o prefeito de fato, mas os parlamentares que assim o viam e pretendiam instalar uma comissão de investigação teriam mudado de ideia depois que a Prefeitura fez um contrato emergencial no valor de cerca de R$ 2 milhões para locação de máquinas pesadas e caminhões

Segundo servidores, Chiquinho estaria se dedicando mais a atender grandes empresários e a “fiscalizar” os contratos maiores. Agressivo com os adversários, o ex-prefeito usa as redes sociais com frequência para atacar quem critica a gestão de sua esposa. “Se tiver que bater eu bato, se tiver que dar porrada eu dou mesmo”, costuma dizer.

No processo movido pelo Ministério Público pela utilização de mão de obra da Prefeitura na construção de sua casa, o ex-prefeito teve a companhia do ex-secretário de Obras Luiz Carlos Guedes, que recebeu a mesma pena.  Durante o trâmite dessa ação na 1ª Vara Civil da comarca local os pedreiros, ajudantes, pintores e eletricistas, todos servidores da Prefeitura de Araruama, declararam que “iam bem cedo de Araruama para Búzios, saindo de lá tarde”. Como a decisão foi confirmada em instância superior, o ex-prefeito acabou enquadrado pela Lei da Ficha Limpa e desde 2012 vinha tentando recuperar o poder de forma indireta. Naquele ano ele lançou um irmão à Prefeitura. João Ribeiro concorreu pelo PTB e teve apenas 4.634 votos.

 

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