Cuspindo no prato: com medo de perder mandato por infidelidade partidária, Max Lemos sai atirando contra família Picciani

Max Lemos posava sorridente ao lado de seu padrinho político

“O dia do benefício é a véspera da ingratidão”. A frase que faz parte da letra da música “Contraste”, de Noel Rosa, veio à cabeça de uma influente liderança política do estado do Rio de Janeiro ao tomar conhecimento, agora há pouco, dos argumentos usados pela defesa do deputado estadual Max Lemos na inicial de uma ação de justificação de desfiliação partidária, ajuizada no TRE por um advogado paulista, para tentar evitar perda do mandato do parlamentar por infidelidade partidária. Max, que deixou o MDB para filiar-se ao PSDB, legenda pela qual pretende disputar a Prefeitura de Nova Iguaçu, corre risco de perder a cadeira na Assembleia Legislativa para o primeiro suplente do MDB, Atila Nunes, uma vez que sua saída não teria ocorrido por justa causa como é alegado na representação.

No documento – do qual o elizeupires.com recebeu uma cópia na noite desta sexta-feira (3) – a defesa parte para o ataque, como se Max não tivesse nascido para a vida pública nos braços de Jorge Picciani e do ex-governador Sergio Cabral, que o ajudaram a ser eleito vereador e duas vezes prefeito de Queimados. Quem lê os argumentos apresentados, percebe um  esforço  enorme para descolar Max  dos Picciani, com o hoje deputado estadual parecendo ter esquecido de que não era nada politicamente falando antes de ir trabalhar na Assembleia Legislativa como principal assessor do então todo-poderoso da política fluminense.

Sérgio Cabral também era idolatrado por Max

Na ação movida contra o MDB que é presidido no estado pelo ex-deputado federal Leonardo Picciani, foram anexadas matérias jornalísticas falando sobre corrupção e a prisão do padrinho político de Max, o ex-presidente da Alerj Jorge Picciani, de cuja ligação Lemos  costumava demonstrar muito orgulho.

No documento é citado, por exemplo, que o estatuto do MDB “prevê critérios rígidos de admissão de filiados, que não podem, por exemplo, ter praticado atos de improbidade administrativa, na gestão da coisa pública; adotado conduta pessoal indecorosa ou incompatível com os postulados e a orientação política do partido”, dando a entender que Max  deixou a legenda por que cabeças coroadas do MDB como o ex-governador Sergio Cabral (padrinho de casamento de Lemos), Picciani, Luiz Fernando Pezão e Paulo Melo tiveram condutas condenadas no estatuto, mas isto não parecia incomodá-lo quando posava para fotos ao lado dos então medalhões da política fluminense.

Dinastia – Na ação é citado ainda que “o MDB estadual do Rio de Janeiro é um dos maiores exemplos de dinastias partidárias”, na medida em que a presidência “quando passa, passa de pai para filho”, exemplificando a substituição do Picciani pai por Picciani fiho, o que também não parecia incomodar Max em passado não muito distante.

O documento cita que ao deixar a presidência do MDB fluminense, algum tempo após ser preso, Jorge deixou Leonardo no seu comando. Fala também do “desvio reiterado do programa partidário” com a reiteração de mandatos familiares por mais de dez anos e que durante muito tempo as famílias Picciani e Cabral comandaram a legenda no estado, o que também não parecia causar antes incomodo algum ao hoje descontente.

Bom moço – Na ação é destacada também a postura de bom moço de Max Lemos, que antes não demonstrava ver nada de errado no partido. “O autor, há tempos, vem buscando que o MDB fluminense volte às suas origens estatutárias, sem encontrar eco na sua executiva estadual, principalmente por parte de seu presidente”, diz um trecho com o qual a defesa pretende convencer o TRE de que a desfiliação se deu por justa causa.

“O partido que tem democracia no nome não tem democracia na prática no Rio de Janeiro. Defende a probidade administrativa, mas não pune seus filiados condenados criminalmente em 2ª instância. Razões de justa causa não faltam para o autor mudar de partido”, se estende a defesa, sem levar em conta que a legenda de hoje é a mesma do tempo em que Max foi vereador e duas vezes prefeito.

Trecho da letra da música “Contraste”

É cruel, é cruel este contraste
Que me faz ficar tão triste:
Vais sair por onde entraste,
Descendo por onde subiste!

Foi com muito sacrifício
Que eu te dei um barracão
O dia do benefício
É véspera da ingratidão

Tu tens tanta falsidade
Já vendeste tanta gente
Que eu creio ser verdade
Que Judas já foi teu parente.