Mercado vê sinal positivo na política fiscal com Lula  chamando o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto conseguiu dar uma importante sinalização positiva ao mercado ao conquistar o apoio formal do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Para economistas ouvidos pelo Broadcast, o movimento reduz o temor com um descontrole das contas públicas e eleva a credibilidade do arcabouço fiscal em um eventual novo governo petista.

Um dos fiadores da criação do teto dos gastos enquanto chefiava a Fazenda no governo Michel Temer (MDB), Meirelles formalizou o apoio à candidatura de Lula nesta segunda-feira, 19, em um ato político com outros sete ex-candidatos à Presidência. Ele defendeu o legado econômico dos governos do petista, quando chefiou o BC. “Eu olho e vejo o resultado do seu governo, isso nos faz estar aqui. Estou aqui com tranquilidade, com confiança, porque eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil”, disse.

“Eu entendo que, ainda que tenha muita água para rolar, o apoio do Meirelles sinaliza que Lula deu indício de uma pauta econômica racional, o que implica que o Ministério da Economia não ficará nas mãos de alguém mais da ‘linha dura’ do PT”, avalia o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. “Além da gestão do BC e de ser um político mais pró-mercado, Meirelles foi um dos mentores do teto de gastos, o que eleva a credibilidade com relação ao arcabouço fiscal do governo Lula.”

A sinalização pode ajudar a dirimir a resistência do mercado ao nome do petista, que tem falado em revisão do arcabouço fiscal do País e em aumento de programas sociais. A campanha de Lula já prometeu, por exemplo, manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 reais no ano que vem e conceder um adicional de R$ 150 no benefício a cada filho com menos de seis anos nas famílias beneficiárias.

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o evento marca um esforço claro da campanha em sinalizar que a intenção é repetir a fórmula de política econômica ortodoxa observada no primeiro governo Lula e reduzir a resistência do mercado ao nome do petista, que é líder nas pesquisas de intenção de voto. “Essa sinalização eu acho que é bastante adequada, no sentido de tentar apaziguar qualquer desconforto que tenha”, diz o analista.

Ministro –  O apoio de Meirelles à candidatura de Lula também renovou no mercado a avaliação de que o ex-BC pode ocupar o ministério da Economia em um eventual novo governo petista. Nas suas últimas participações em eventos públicos, o ex-ministro não assume, mas também não nega a possibilidade. “Uma das normas que tenho na vida é que não decido baseado em hipóteses, tomo decisões baseadas em fatos”, disse Meirelles na semana passada, em São Paulo.

“Não sabemos se é uma sinalização de que ele pode participar do governo, mas, como ele já compôs o governo Lula, o mercado recebe como uma possibilidade”, nota uma economista de uma instituição financeira, que preferiu não se identificar. “Tem uma melhora ancorada nessa possibilidade. Meirelles foi o cabeça do teto de gastos, então, isso é bem-vindo.”

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, afirma que o episódio mostra que é provável que um eventual novo governo Lula tenha à frente da política econômica um nome pró-mercado. Ao mesmo tempo, a sinalização afasta o risco de que a ala mais à esquerda dentro do PT possa conduzir a economia do País, afirma.

“É provável que Lula ache um ministro da Economia como o Meirelles, talvez até o próprio. Isso seria um sinal importante para o mercado, de que haveria maior preocupação com o fiscal”, diz Vale. “Se Lula seguir esse caminho, e evitar que o caminho antigo que tem sido ventilado aconteça, será um efeito muito positivo no mercado e com chances, pelo menos em um primeiro momento, de poder dar certo.”

(Agência Estado)

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