Que tal construirmos juntos?

Uma reflexão sobre Magé

A cada matéria sobre outros municípios surgem comentários buscando travar uma comparação com Magé. Um grande equívoco, pois essa não pode ser comparada a nenhuma outra cidade, pois município algum viveu situação ao menos parecida.  A situação de Magé é única: a cidade tem quase 500 anos, mas precisa começar do zero, varrer as cinzas do incêndio, remover os escombros e, principalmente, adotar a consciência de que a causa desse quadro não está nas ações do vizinho ou no comportamento do colega de trabalho. A causa está em todos, pois a cidade viveu anos de chumbo e o que se viu nesse período nebuloso foi um povo acovardado, baixando a cabeça para tudo, esperando, talvez, por um milagre do céu ou por soluções mágicas, mas essa é a extensão de uma verdade que ninguém gosta de ouvir, pois evidencia que o mageense deixou as coisas acontecerem. Magé, amigos, por tanto desacerto, desaprendeu a andar e quem perde a intimidade com os passos não pode sair correndo por aí…

Magé não pode ser comparada mesmo, pois nenhuma outra cidade foi governada por uma gente estranha que confundia o público com o privado, que tinha o município como propriedade particular e o povo como nada. A palavra dessa gente era lei e ninguém questionava… Os funcionários que serviam ao governo morriam de medo e os órgãos de comunicação da cidade assistiam a tudo pacificamente. Não davam um pio, não apontavam o dedo para nada errado e o espaço que tinham era gasto para elogiar os donos do poder. Magé, meus caros, está acima de qualquer visão pessoal e interesse particular. O município tem de ser focado com uma visão global, para que cada canto seja refeito e todos os setores contemplados.

“É, mas demos um basta nisso e agora estamos atentos”, alguém certamente vai dizer. Demos quem, cara pálida, se a reação veio mais de fora que de dentro? Foi louvável a virada de jogo na eleição suplementar e a reeleição do prefeito escolhido naquele pleito, pois o mageense mostrou que não quer voltar ao passado, mas será que isso só basta? Claro que não. O mageense tem de mudar sua maneira de pensar. Não basta apenas votar. Tem de participar, se envolver, meter na cabeça que é preciso acompanhar de perto cada passo, mas fazê-lo com a razão e não apenas porque não gosta do autor de uma ideia ou de quem a está executando.

Uma cidade não é melhor porque seus servidores têm o melhor salário do pais. É boa quando há infraesturura suficiente, qualidade de vida e bons serviços públicos, mas isso só se constrói com o tempo, com o trabalho de dia após dia, pois a coisa tem de ser boa para todos, servidores e população. Não podemos classificar como mau um governo por ele ter nos dito um rotundo não ou atribuí-lo qualidades por dele termos ouvido um sonoro sim. A avaliação – boa ou má – se dá pelo que se constrói a cada dia pelo coletivo e não a favor de um ou outro, de um grupo ou outro, de uma classe ou outra. Magé, meus caros, só vai poder ser comparada com as outras cidades quando o seu povo entender que o bem comum se constrói passo a passo e não açodadamente. Querer que se reerga uma cidade em um dia é faltar com a verdade consigo mesmo, é trancar-se no reino da fantasia para encontrar socorro nas fadas e suas varinhas de condão. Magé, minha gente, só poderá ser comparada com outras cidades quando todos colocarem em suas cabeças que é preciso construir juntos, pois sozinho não se chega a lugar algum.

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