Arriscando o dinheiro alheio

Paulo Dames ignorou as denúncias de irregularidades na aplicação de recursos do órgão no mercado financeiro

Auditoria diz que direção da previdência dos servidores de Casimiro de Abreu fez investimentos irregulares no mercado financeiro

A direção do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Casimiro de Abreu (Iprev-CA), fez investimentos irregulares em papeis do mercado financeiro, comprometendo pelo menos R$ 5,3 milhões, recursos da instituição responsável pelos proventos dos aposentados e pensionistas da Prefeitura e da Câmara Municipal. Foi o que constatou uma auditoria realizada por técnicos do Ministério da Previdência Social nas contas do órgão referentes ao período de 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2008, durante a gestão do ex-prefeito Paulo Dames. Na época o  órgão tinha como gestores Rita de Cássia Pereira Quintal, Wagner Cardoso Heringer e Paulo Cesar Lopes Pereira, respectivamente nas funções de presidente, diretor financeiro e diretor administrativo

Segundo o relatório final da auditoria feita em janeiro desse ano, além dos investimentos irregulares, entre 2005 e 2008 a direção do instituto ultrapassou o limite legal de 2% em despesas administrativas com dinheiro do fundo de aposentadoria. O documento já foi encaminhado ao Ministério Público e os responsáveis pelas contas do Iprev-CA durante os dois mandatos de Paulo Dames terão de prestar esclarecimentos. O relatório apontou que o instituto adquiriu no dia 17 de agosto de 2004, através do Banco BMG, 76 títulos da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), optando pelo preço máximo, pagando por cada um R$ 13.396,75, quando poderia ter optado pelo preço mínimo, que na época era de R$ 9.953,780.

Além de não consultar aos conselheiros do órgão, Rita, afirma o relatório, passou por cima de uma resolução do Conselho Monetário Nacional, que não autorizava que os recursos previdenciários fossem usados messe tipo de negócio. Nessa operação a direção do Iprev-CA comprometeu R$ 1.016.810,84. Segundo a auditoria, ainda em 2004, no mês de novembro, a direção do instituto voltou a cometer a mesma irregularidade e a operar através da mesma instituição financeira: adquiriu mais 34 títulos da CESP, desrespeitando a resolução 3244/2004 e ao todo, o negócio custou R$ 2.586.340,95.

O relatório da auditoria aponta que a direção do instituto continuou arriscando o dinheiro dos servidores municipais e no dia 15 de março de 2005 comprou 1.810 Notas do Tesouro Nacional (NTN), a preços unitários incompatíveis com os praticados pelo mercado financeiro. Dessa transação os auditores não encontraram nenhuma nota e nem conseguiram apurar de que forma o Iprev-CA contratou a corretora que intermediou o negócio. Os técnicos do Ministério da Previdência Social constaram que também nessa transação o preço pago foi muito superior, pois se as notas tivessem sido adquiridas pela tabela da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima), o instituto teria pagado R$ 2.026.503,88, R$ 697.836,82 a menos que os R$ 2.724.340,70 efetivamente gastos na transação.

Com 39 páginas o relatório aponta excesso de despesas administrativas com recursos do fundo de aposentadoria no total de R$ 245.761,30 em 2005, R$ 298.782,27 em 2006, R$ 206.178,07 em 2007 e R$ 238.907,87 durante o ano de 2008, ultrapassando em exatos R$ 989.629,51 o limite permitido por lei. “Não sei exatamente o que aconteceu, mas a auditoria foi muito bem feita. Tanto o Ministério Público Estadual como a, Controladoria Geral da União (CGU), Ministério da Previdência Social e Tribunal de Contas do Estado (TCE), estão cientes do fato”, afirmou João Gilberto, que há quatro meses preside o instituto.

Em janeiro de 2004 a direção do Iprev-CA decidiu retirar R$ 2.314.370,51 do Banco do Brasil, uma instituição financeira com credibilidade no mundo inteiro, para aplicar no Banco Santos, um banco minúsculo, com apenas três agências e uma carteira de cerca de 700 clientes. O resultado foi desastroso: o Banco Santos faliu, prejudicando todos os investidores, inclusive os servidores do município de Casimiro de Abreu, que perderam todo o montante aplicado.

A pedido do então vereador, o hoje prefeito Antonio Marcos, foi instalada uma comissão de inquérito na Câmara Municipal para investigar a aplicação no Banco Santos e o consequente prejuízo para os servidores. Durante as investigações foi concluído que houve improbidade administrativa e o relatório foi encaminhado ao Ministério Público, que instaurou inquérito, mas até hoje ninguém foi punido por isso.

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