Itatiaia: Ordem para servidor atestar nota de material não entregue teria partido do gabinete do prefeito, relatou o funcionário em depoimento à Polícia

Elizeu Pires

Em depoimento prestado na 99ª Delegacia Policial no dia 25 de março, um funcionário do Hospital Municipal Manoel Martins de Barros, em Itatiaia – cidade do Sul do estado do Rio de Janeiro –, afirmou que ao ser pressionado para atestar notas ficais emitidas pela empresa Latex Hospitalar Importação e Comércio de Produtos Hospitalares por fornecimento de insumos que não teriam sido entregues em sua totalidade, ouviu que a ordem para que o atesto fosse dado teria vindo “lá de cima”, e que ao questionar com um “lá de cima onde?” recebeu a seguinte resposta: “gabinete do prefeito Imberê”, referindo-se a Imberê Moreira Alves, que governa o município interinamente desde o dia 1º de janeiro.

Conforme já foi noticiado, no dia 30 de março, a Justiça, em atendimento ao Ministério Público, suspendeu os pagamentos à empresa, por suspeita de irregularidades. A Promotoria resolveu agir ao tomar conhecimento de que funcionários da Prefeitura teriam sido coagidos a atestar notas fiscais de mercadorias não entregues. Segundo foi apurado até agora, a Latex recebeu R$ 1,450 milhão embora tivesse entregue apenas uma pequena parte do material comprado, e um segundo pagamento no valor de R$ 850 mil estaria perto de ser concluído, o que só não aconteceu porque a Justiça agiu a tempo.

Pressão psicológica e suposto delegado – Preocupado com a situação e pelo fato de ter sido procurado por promotores de Justiça em seu local de trabalho dois dias antes, no dia 25 de março o funcionário do almoxarrifado do hospital municipal, cujo nome o elizeupires.com manterá em sigilo, procurou a Polícia e contou a história que levou o Ministério Público a ingressar com a ação que resultou na suspensão dos pagamentos.

Em seu depoimento o servidor de carreira contou que entre os que o pressionaram para assinar o recebimento das mercadorias está o hoje secretário municipal de Saúde, Marcus Vinicius Rebello Gomes, que aparece como sócio em uma corretora de seguros ao lado de dois dos donos da Latex, contratada sem licitação por cerca de R$ 3 milhões para fornecer equipamentos de proteção individual ao município, entre eles luvas, máscaras e aventais descartais. Segundo foi apurado até agora, a empresa recebeu R$ 1,450 milhão embora tivesse entregue apenas parte do material comprado e um segundo pagamento no valor de R$ 850 mil estaria perto de ser concluído.

De acordo com o relato do funcionário, na manhã do dia 25 de março ele se encontrava em seu local de trabalho e foi informado através de uma ligação telefônica, por volta das 10h, por outro servidor, de que Marcus estaria indo ao almoxarifado colher assinaturas suas em outras notas de materiais que também não tinham sido entregues.

Pouco tempo depois, continuou em seu depoimento o funcionário, Marcus chegou em um veículo seguido por outros dois carros, chamou por ele e falou que estaria lá acompanhado de um “delegado de polícia de nome Marcelo”, que seria “da Draco, que também seria dono da empresa Latex Hospitalar”. O funcionário concluiu o depoimento dizendo se sentiu “ameaçado, coagido e constrangido” com a situação, “principalmente pelo modo como  Marcelo e Marcus agiram”.

*O espaço está aberto para manifestação da Prefeitura de Itatiaia e da empresa citada na matéria.

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